acostuma-te à lama que te espera!
o homem, que, nesta terra miserável,
mora entre feras, sente inevitável
necessidade de também ser fera.
Há muito vemos pessoas ajudando outras pessoas como forma de ajudar a si mesmas.
É a famosa pilantropia.
Muita gente acha que fazendo caridade reserva um lugar especial e quentinho no céu, privando da amizade de anjos e arcanjos e sendo bajulada por toda a eternidade.
Não tem nada a ver com o miserável pedinte, o pilantropo age em causa própria.
Parece que esse é o caso do empresário bolsonarista que, numa tremenda satanagem, humilhou uma senhora na porta de casa ao entregar mantimentos a ela.
É que, ao constatar que a senhora era eleitora de Lula, o sujeito inflamou-se de ódio, mandou às favas Deus e as benesses do Paraíso e demonstrou que para um bolsonarista Deus pode até estar acima de todos, mas o Mito está acima de tudo!
Monstrificado, fera entre feras, o empresário bolsonarista mostrou que “a mão que afaga” é a mesma que apedreja.
A mão que empunha um terço é a mesma que saca um revólver, a boca que grita contra o aborto é a mesma que braveja pedindo pena de morte.
“Vamos metralhar essa petralhada,” ordenou o Mito.
Sentindo a inevitável necessidade de também ser fera, Cássio Cenali, o empresário Bolsonarista, viu naquela senhora, imediatamente, um inimigo a ser destruído.
A fome, sabemos todos, é um método cruel de assassinato, Cássio sabia que sem a esmola que ele deixava no portão daquela senhora, ela poderia sucumbir.
Cássio, bestificado e tomado por um ódio sorridente e cínico, sabia que Deus, que é onipresente e onisciente, observava aquela crueldade das alturas.
Cássio cagou pra Deus!
Sua missão, naquele momento, ao identificar uma “petistacomunista”, era alimentar a falange bolsonarista com essa ração barata feita de ódio, humilhação e desprezo.
Na mente daquele demente, publicar um vídeo humilhando uma mulher vulnerável era mitar.
Estava seguro que seu vídeo viralizaria, que a falange do ódio iria republicá-lo à exaustão e todos repetiriam o seu bordão: “vai pedir pro Lula”.
A cena é tão absurda e chocante que o próprio Ciranha dessa vez não teve o despudor de fazer um paralelo entre o sujeito e Lula.
Os farsantes fascistas riem como hienas, enquanto devoram a carne viva dos seus “inimigos”.
A imagem bolsonárica é muito semelhante a que vimos no semestre passado na Ucrânia.
Numa pequena vila nos arredores de Kharkiv, arrasada pelos bombardeios, uns soldados ucranazis chegaram com alimentos para entregar a uma família necessitada.
A senhora Anna Ivanova os recebeu empunhando uma bandeira da União Soviética.
Os sacanas, adoradores do Bandera, entregaram as sacolas para a velhinha e pisotearam sua bandeira vermelha.
E, claro, filmaram a cena sádica como o fez o empresário bolsonarista.
Porém, ao contrário da senhora Ilza Santos, que foi pega de surpresa e sorriu meio sem entender o motivo daquela humilhação, a senhorinha ucraniana protestou.
Devolveu as sacolas para os ucranazis e passou-lhes um pito.
O que me fez lembrar o grande Augusto dos Anjos: “se alguém causa inda pena a tua chaga, apedreja essa mão vil que te afaga, escarra nessa boca que te beija”.
Por sua valentia, a vovozinha ganhou uma estátua na Rússia, onde ficou conhecida como Babushka Z.
A senhora Ilza Ramos não teve tempo de raciocinar sobre o que lhe ocorrera, acreditou que aquele sujeito que lhe levava afagos o fazia por amor e compaixão.
A babushka, por outro lado, conhece muito bem como pensam e agem os ucranazis, por isso não se surpreendeu com a dissimulação dos falsos benfeitores.
Os dois episódios, diria o Ciranha, guardam paralelo; são ambos frutos dessa maldita polarização, onde um lado mata, desmata e maltrata, e o outro só se fode.
Palavra da salvação.
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum