Fellipe R. Vasques é músico, escritor, pesquisador na área de Educação Ambiental, estudante de Línguas, Literaturas e Culturas na Universidade do Porto. Ele acaba de lançar “Espanha em Guerra: O sofrimento civil em um conflito interno”. Trata-se de seu primeiro romance, uma tocante história de ficção baseada na saga de sua família e tem como pano de fundo a Guerra Civil Espanhola.
Fellipe é o jovem filho do amigo querido Lucas Vasques, jornalista de mão cheia, que foi editor de Esportes do jornal A Tribuna, de Santos, e é colega na redação da Revista Fórum. Conheço o escritor, portanto, desde criança e fui pra leitura entre a compassividade e o receio.
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À medida em que avançava nas páginas de “Espanha em Guerra” deixava todas as nossas proximidades de lado. O que lia, cada vez mais emocionado e envolvido pela narrativa, chegava através de um texto maduro, rico em pesquisas e, ao mesmo tempo, cheio de um orgulho contido.
Orgulho plenamente justificável ao descrever as aventuras de sua bisavó, a heroica Carmem, que literalmente carregou as filhas país afora, todas elas mulheres tentando sobreviver em meio à guerra sangrenta e à sandice dos homens que se matavam feito moscas.
Entre a cruz e a caldeirinha
Fellipe escreve entre a cruz e a caldeirinha, apesar de garantir se tratar de ficção baseada em histórias que ouvia desde menino. Um dos principais protagonistas é seu bisavô Ramón, alferes do exército do generalíssimo Franco, o sanguinário ditador espanhol que contou, entre outras coisas, com o apoio da Legião Condor, unidade do exército da Alemanha nazista.
Longe de tentar qualquer justificativa histórica para redimir a família, o autor não deixa de apontar, tanto a insanidade quanto ações heroicas, em ambos os lados.
Com estrutura cronológica, a narrativa prossegue de maneira vertiginosa até reunir personagens, histórias e paixões em seu auge na sangrenta batalha de Teruel, entre o final de 1937 e o início de 1938, quando morreram milhares de combatentes dos dois lados. O episódio sepultou de vez as possibilidades de vitória do Exército Republicano. Um ano depois, os nacionalistas entravam em Barcelona e enterravam o país por décadas na ditadura de Franco.
Nova ventania autoritária
Uma história que serve, sobretudo, de exemplo à nova ventania autoritária que percorre o planeta mais uma vez.
A narrativa proporciona ao leitor uma história de paixão, heroísmo e humanidades e, ao mesmo tempo, uma grande riqueza de detalhes e acontecimentos reais. Trata-se, enfim, de um resumo do que foi o conflito revisto de maneira emocionada, que serve a todos que queiram conhecer sobre o assunto. Um conflito estratégico vital para se compreender a geopolítica mundial do Século XX, ocorrido pouco antes da Segunda Grande Guerra.
O livro de Fellipe termina com a vinda da família ao Brasil, após um sonho da matriarca. Curiosamente, tanto o autor quanto toda sua família do lado materno devem a existência à coragem dessas mulheres, que construíram vida nova por essas bandas.
“Espanha em Guerra” é um lindo livro, que merece virar filme ou minissérie. Uma homenagem emocionada, sincera e elaborada a um povo imprescindível na nossa formação ética, cultural e humana.