DOM PHILLIPS E BRUNO PEREIRA

Corpus Christi: O Cristo que sangra na Amazônia – Por pastor Zé Barbosa Jr

O sangue derramado de inocentes é uma afronta à democracia, à humanidade e desestabiliza cada vez mais um povo cansado de sofrer suas perdas e mortes. O Brasil é, hoje, um país triste e desesperançado. E Bolsonaro tem culpa nisso. MUITA CULPA

Policial encontra camisa manchada de sangue dentro do rio, durante buscas no Amazonas..Créditos: Channel4/Reprodução
Escrito en OPINIÃO el

Na semana em que a cristandade católica celebra o Corpus Christi, a crença de que o corpo de Cristo se faz presente na Eucaristia, o Brasil é assolado por mais uma derrota para a violência e a barbárie: a confissão do assassinato do jornalista inglês Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Pereira com requintes de crueldade e perversidade, traços que, sem dúvida alguma, ganharam espaço e legitimidade no atual governo brasileiro. 

Vivemos a “Era Inominável”, das mais terríveis atrocidades e do governo mais vil e leviano que tivemos até hoje no Brasil. Sim, Bolsonaro é, sem dúvida alguma, o pior brasileiro vivo! E não há como não afirmar: o bolsonarismo tem tudo a ver com as mortes na região amazônica. Você até pode argumentar que sempre existiu a violência contra aqueles que bravamente se levantam contra o garimpo ilegal, a pesca predatória e os desmandos dos poderosos naquela região – citando Dorothy Stang e Chico Mendes como exemplo de mártires - , mas havemos de convir que essa prática nunca foi tão legitimada e defendida pelo Governo brasileiro.

É bom lembrar que foi o ex-juiz, ex-presidenciável e escroque Sérgio Moro quem era Ministro da Justiça (órgão ao qual a FUNAI é subordinada) na época em que Bruno foi exonerado da coordenação da FUNAI, SEM JUSTIFICATIVA, após coordenar uma operação que expulsou centenas de garimpeiros da terra indígena Yanomami, em Roraima. Isso, claro, com o aval do desgoverno Federal. Moro, é claro, nega qualquer participação na exoneração do indigenista, o que também não seria uma surpresa, já que sabemos de sua incapacidade de ser efetivamente sabedor de alguma coisa sob sua (in)competência.

O sangue derramado de inocentes (coisa cada vez mais comum no Brasil, e com o aval das “autoridades constituídas”) é uma afronta à democracia, à humanidade e desestabiliza cada vez mais um povo cansado de sofrer suas perdas e mortes. O Brasil é, hoje, um país triste e desesperançado. As pessoas estão cansadas, exaustas, sem brilho nos olhos. O sofrimento é a linguagem comum, seja pela violência, pela fome, pelo preconceito ou por quaisquer outras coisas que, diariamente, ferem a dignidade humana. E Bolsonaro tem culpa nisso. MUITA CULPA.

E é aqui que traço o paralelo com o Corpus Christi. O corpo presente na Eucaristia é o corpo que sangra pela injustiça, que é vilipendiado pelos poderosos (aliados aos religiosos fundamentalistas), que é exposto em praça pública “como emblema de vergonha e dor” (para citar um hino clássico da cristandade). E creio que o Cristo se manifesta em todo aquele que dá a sua vida em favor do outro, na busca incessante do bem comum, no enfrentamento dos poderosos e na denúncia profética e poética (a imagem de Bruno entoando cantos indígenas não me sai da cabeça) da perversidade dos homens maus, que geralmente se tratam como “homens de bem”.

Dom Phillips e Bruno são, juntamente com Chico Mendes, Irmã Dorothy Stang, Marçal Tupã-i, Padre Josino, João Pedro Teixeira, Margarida Maria Alves, Marielle Franco e tantas outras vidas entregues pelas causas dos mais excluídos e explorados, pequenos Cristos... pequenos Corpus Christi que sangram como grito por justiça, terra e liberdade. O sangue deles não pode ter sido derramado em vão. É sangue-semente, é força vital que, caindo na terra, chega a Deus como clamor e nos impulsiona a não desistirmos jamais.

Que se estendam os tapetes da justiça na Amazônia. Em nome de Dom Phillips e Bruno Pereira, resistiremos!