Há exatos dois anos, no dia 25 de maio de 2020, George Floyd foi morto, estrangulado por Derek Chauvin, um policial branco de Minneapolis (EUA) que se ajoelhou sobre seu pescoço.
No mesmo dia, dois anos depois, nesta quarta-feira (25), Genivaldo de Jesus Santos, de 38 anos, morreu após ser asfixiado por agentes da Polícia Rodoviária Federal no município de Umbaúba, no Sul de Sergipe, no Brasil.
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O caso de Floyd virou os EUA, até então governado pelo presidente de extrema-direita Donald Trump, do avesso. Milhões de pessoas foram às ruas em manifestações permanentes, que giravam em movimento pelas ruas de várias cidades.
Meses depois, em dezembro de 2020, o democrata Joe Biden derrotava Trump, não sem antes seus correligionários tentarem melar as eleições de todas as formas, entre elas com uma sangrenta e desastrada invasão ao Capitólio.
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No momento em que escrevo, a violência indescritível do caso da morte de Genivaldo sobe vertiginosamente nas redes. Corre o mundo a imagem de um homem aos berros asfixiado em meio à fumaça dentro de uma viatura da Polícia Rodoviária Federal (PRF), enquanto agentes seguram a porta traseira do veículo – com o perverso detalhe das pernas da vítima tremendo em desespero do lado de fora.
Chama também a atenção um fato comum às duas cenas. As pessoas presentes filmam e protestam indignadas, mas se acovardam diante da truculência policial.
Dias antes, na terça-feira (24), 26 pessoas foram mortas na Vila Cruzeiro, Zona Norte do Rio de Janeiro, em uma ação conjunta da Polícia Militar e a Polícia Federal. Nenhum dos mortos era policial, vários eram trabalhadores inocentes que não tinham nada a ver nem com o tráfico nem com as polícias envolvidas.
O presidente Jair Bolsonaro, também de extrema-direita, parabenizou os agentes pela ação: "Parabéns aos guerreiros do BOPE e da @PMERJ que neutralizaram pelo menos 20 marginais ligados ao narcotráfico em confronto, após serem atacados a tiros durante operação contra líderes de facção criminosa", disse.
Foi seguido por seus filhos, correligionários, assessores e eleitores.
Sobre Genivaldo, no entanto, todos eles se calaram. Assim como Floyd e a maioria dos mortos da Vila Cruzeiro, ele também era negro e pobre. Além disso, Genivaldo tinha transtornos mentais e nenhum registro de agressividade, era casado e pai de um filho.
Sua esposa conta que, ao pedir para que agentes abrissem o porta-malas para que seu marido respirasse melhor, a resposta de um dos policiais foi: "Ele está melhor do que nós, aí dentro está ventilado". Após a ação, Genivaldo chegou morto ao hospital.
Ao contrário do caso da Vila Cruzeiro e outras chacinas, o de Genivaldo não encontra nenhuma justificativa, nem nas vozes mais fascistas que permeiam nosso Estado. Nem mesmo a fala higienista e incontornável de que era bandido e “bandido bom é bandido morto” pode ser usada contra ele. Genivaldo era um homem comum, cumpridor de seus deveres, trabalhador, pai e marido.
A sanha assassina e descontrolada do Estado bolsonarista trombou dessa vez contra uma parede. A imagem do corpo agonizante de Genivaldo em meio à fumaça dentro do camburão, no interior de Sergipe, cobrará uma resposta.
Assim como George Floyd, que ofereceu seu cadáver para que o nefasto Trump fosse derrubado, que a mesma homenagem seja prestada à memória de Genivaldo, com o fim definitivo do bolsonarismo.