Jair Bolsonaro (PL) nunca soube o que fazer com a Petrobras. Por isso sempre defendeu "se livrar" da estatal. Agora não é diferente. Mas, diante da impossibilidade de uma privatização a jato resolveu apostar todas as fichas em uma troca eleitoral no comando da estatal, após receber a promessa de Paulo Guedes, ministro da Economia, de uma solução para as recorrentes altas nos preços dos combustíveis, fruto da política neoliberal de paridade internacional, que impacta na inflação e nas pesquisas de intenção de votos.
Bolsonaro é ignorante - em especial em economia -, mas está longe de ser burro. E sabe que a máxima cunhada por James Carville, marqueteiro de Bill Clinton na campanha de 1992 nos EUA, se ajusta às eleições no Brasil: É a economia, estúpido!.
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O plano de Guedes e Adolfo Sachsida, pau mandado do sistema financeiro que ocupa o ministério de Minas e Energia, é destruir a imagem da Petrobras para que a estatal seja privatizada no início do próximo ano.
E para isso contam imprescindivelmente com a reeleição de Bolsonaro, que topou entrar no jogo de queimar a Petrobras em busca de votos - fazendo exatamente aquilo que sempre acusou os adversários.
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A promessa de Guedes e Sachsida era esticar a corda no intervalo para aumento dos combustíveis, em especial do diesel, que provoca efeito cascata na inflação dos alimentos. O objetivo era ter no máximo dois aumentos até 2 de outubro, véspera da eleição.
No entanto, José Mauro Coelho Ferreira, alçado há 40 dias para a Presidência da estatal, não concordou e foi limado. Para o lugar, Guedes quer colocar um subalterno Caio Paes de Andrade, secretário especial de desburocratização que é formado em Comunicação Social pela Unip de São Paulo - ou seja, sem as credenciais mínimas para assumir o posto. Andrade é alguém que pode ser facilmente queimado, caso o plano não dê certo.
Guedes ainda convenceu Bolsonaro de que não tem nada a perder. Se o plano der certo e garantir a reeleição, Bolsonaro vende a Petrobras a preço de banana - como busca fazer com a Eletrobras - e se livra do "problema" no início do mandato. Se der errado e Lula for eleito, a bomba vai explodir nas mãos do petista - o que seria mais um prato cheio para bolsonaristas acusarem o PT pela má gestão.
Desabastecimento
A estratégia eleitoral de Bolsonaro sobre a Petrobras, no entanto, pode aprofundar de forma caótica a crise econômica no país. Ao interferir nos reajustes sem a capacidade de refino que o país precisa, pode começar a faltar diesel nas bombas, paralisando a economia às vésperas da eleição.
Em entrevista ao Uol sem revelar a identidade, um executivo de uma grande produtora de diesel fez o alerta: "se a Petrobras parar de vender diesel a preços internacionais por mais de duas ou três semanas, há uma chance de as bombas secarem".
Os estoques no país, que estariam na metade, têm capacidade de mover a frota de caminhões por um mês. A Petrobras já teria feito contato com fornecedores de diesel na Índia, mas a carga leva de 45 a 60 dias para chegar ao país.
O "xadrez eleitoral" na Petrobras ainda não foi totalmente absorvido pelo sistema financeiro, que busca subsídios para continuar apostando suas fichas na política neoliberal de Guedes, que dá sustentação ao governo fascista de Bolsonaro.
No entanto, a excessiva intervenção do governo na Estatal agora com vistas eleitorais causa certo temor, ainda mais se o barril de petróleo e o dólar subirem. Sem os preços acompanhando a variação internacional, os dividendos bilionários pagos a acionistas seriam reduzidos drasticamente.
A aposta dos endinheirados ainda é na privatização da Petrobras - e outras estatais. E por isso ainda estão dispostos a bancarem todo a patacoada eleitoral em cima da Petrobras. Resta saber o que e quanto sobrará da maior empresa brasileira quando o bolsonarismo chegar ao fim.