CLUBE DA ESQUINA

“Clube da Esquina” é eleito por “especialistas” como melhor álbum brasileiro

A despeito de ser uma obra-prima, escolha é uma bobagem que deixa de lado tantos outros que, sem o qual, nem o próprio álbum de Milton Nascimento e Lô Borges existiria

Clube da Esquina.Créditos: Capa/Divulgação
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O podcast Discoteca Básica fez uma enquete com 162 especialistas de diferentes áreas ligadas à produção musical, entre eles jornalistas, youtubers, podcasters, músicos e produtores. O objetivo era descobrir, entre 500 melhores álbuns de toda a história. O vencedor absoluto foi o “Clube da Esquina”, de Milton Nascimento e Lô Borges, gravado em 1972.

A despeito de discordar por princípio desse tipo de lista, penso que nem o Lô Borges, e muito menos o Milton Nascimento, apesar de lisonjeados, referendariam isso. Claro que o “Clube da Esquina” é uma obra-prima e isso já foi tratado por aqui inúmeras vezes.

Mas não seria nada sem o “Chega de Saudade”, do João Gilberto, que também aparece na lista (isso sem contar os Beatles, que são ingleses e influenciaram profundamente os dois artistas). Já o João, por sua vez, não existiria não fosse o Orlando Silva, que não aparece sequer entre os dez primeiros.

Os exemplos são enormes e seria necessário, no mínimo, o Dicionário Cravo Albin pra ilustrar as idas e vindas de nossa música. Que tipo de critério teria sido usado para compor a tal lista de melhores álbuns da nossa música que deixou de fora dos dez primeiros um artista como o Dorival Caymmi, por exemplo? Paulinho da Viola idem, Martinho da Vila e, pasmem, Tom Jobim, que só aparece em seu disco em parceria com a cantora Elis Regina.

Há na lista uma clara preferência a álbuns da década de 70, como “Tábua de Esmeralda”, do então Jorge Ben; “Secos & Molhados”, do grupo homônimo; o soberbo “Construção”, de Chico Buarque; “Acabou Chorare”, dos Novos Baianos entre outros.

Por esse mesmo critério, como Tim Maia ficou de fora? E, outro pasmem, Gilberto Gil? Rita Lee – a única mulher que aparece na lista dos quatro mais vendidos de todos os tempos – então nem pensar, não é mesmo?

A lista segue e outra ausência imperdoável é notada entre as escolhas dos “especialistas”, o rei Roberto Carlos que emplacou ao menos meia dúzia de obras-primas entre os grandes álbuns brasileiros, gostem dele ou não.

Por trás de Roberto há um sem fim de cantores e compositores tratados pela “inteligência” da nossa canção como bregas que, óbvio, nunca, jamais em tempo algum, estariam em uma lista dessas. E, mais atrás ainda, músicos de outros gêneros como os ditos caipiras Pena Branca & Xavantinho e até mesmo, Tonico e Tinoco, são tratados como inexistentes. A lista é chique.

Mas, mesmo dentro do que se poderia tratar como chique e elegante, nomes da vanguarda paulistana, sucessos absolutos de crítica e fracasso de público, como o Grupo Rumo, Itamar Assumpção e Arrigo Barnabé não aparecem nem de longe. “Clara Crocodilo”, de Arrigo estaria em qualquer lista um tanto mais responsável. “Beleléu, leu, eu” de Itamar idem.

Poderia passar o resto dos meus dias a lembrar artistas e álbuns que deveriam se revezar entre os grandes, como Luiz Melodia e o seu “Pérola Negra”; João Bosco e Aldir Blanc com o fabuloso “Linha de Passe”; Sérgio Sampaio com “Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua”; Victor Ramil e o lindo “Ramilonga” e por aí vai.

Por essas e outras que fazer listas de melhores é das piores coisas que se pode fazer entre todas as que são inofensivas.