MÍDIA

Reportagem do JN sobre Lula e ONU é histórica: 6 minutos de bom jornalismo (vídeo)

Jornal Nacional sobre decisão da ONU: sem precedentes desde que a Globo tornou-se porta-voz oficiosa da Lava Jato. Lula finalmente retratado de maneira objetiva

Créditos: Reprodução/GloboPlay
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O Jornal Nacional dedicou exatos 6 minutos e 18 segundos à decisão da ONU, sob responsabilidade de seu Comitê de Direitos Humanos, de considerar que todo o processo judicial conduzido por Moro e a Lava Jato contra Lula violou seus direitos e sonegou ao país o direito de votar no ex-presidente em 2018. Foi uma reportagem de alto nível,na noite desta quinta-feira (28), momento raro de jornalismo político de qualidade na emissora. 

Advirta-se: a Globo, parceira da Lava Jato desde a primeira hora, reproduziu alegremente por anos os releases e vazamentos da operação. Agora, foi ela mesma atingida pela decisão da ONU, que considerou ilegal a divulgação de uma conversa telefônica entre Dilma Roussef e Lula em março de 2016 -a gravação ilegal foi disseminada com estardalhaço pelo Jornal Nacional.  

A emissora dos Marinho viu seus sócios Moro e Dallagnol serem condenados e desmoralizados seguidamente, num processo que chegou ao seu ponto culminante com a decisão da ONU. Tudo indica que ela jogará os antigos sócios ao mar.

Quanto à reportagem desta quinta: para usar uma expressão cara a Lula, “nunca antes na história desse país” o Jornal Nacional fez uma reportagem favorável ao ex-presidente, especialmente desde as articulações para o golpe contra Dilma no fim de 2014. 

"O Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas concluiu que o ex-presidente Lula não teve a garantia de um julgamento imparcial pelo ex-juiz Sergio Moro e que os direitos políticos de Lula foram violados na Operação Lava Jato", anunciou, solene, William Bonner na abertura da reportagem.

Houve teorias conspiratórias que circularam segundo as quais o Jornal Nacional não teria noticiado a decisão da ONU na quarta-feira por um veto editorial. Mas a reportagem do dia seguinte derrubou as teorias. Para sustentar a teoria, houve quem recorresse à tese segundo a qual a emissora teria “recuado” de sua suposta decisão de não noticiar o assunto por conta da cobertura da mídia internacional. Mas a imprensa internacional não deu grande destaque ao assunto, exceto por notas das agências Reuters e AFP -a cobertura de fato ficou cingida a mídias estatais como a TeleSur (Venezuela), Al Jazeera (Catar), France 24 e RFI (França) e DW (Alemanha). 

Quem conhece a dinâmica jornalística sabe que a Globo não entrou no assunto na quarta porque não iria sancionar o “furo” (notícia exclusiva) do jornalista Jamil Chade, do UOL, e esperou a notícia oficial da ONU, que acabou saindo a público na quinta.

O jornalista Maurício Stycer, com quem já trabalhei no passado e hoje é crítico de TV no UOL (um profissional íntegro), registrou que foi o Jornal Nacional “quem melhor noticiou a vitória de Lula na ONU”.

Foi mesmo. Bianca Rothier, correspondente da emissora em Genebra, na Suíça, sede do Comitê, reproduziu todos os principais trechos da decisão e ouviu Arif Bulkan, que assinou a nota em nome da ONU; a reportagem reproduziu trechos da entrevista coletiva da dupla de advogados de Lula, Cristiano Zanin e Valeska Teixeira; finalmente, reproduziu entrevista de Moro (45 segundos) e procurou o STF e os atuais responsáveis pela Lava Jato, que não se pronunciaram. 

Falta o Jornal Nacional ouvir Lula; para isso há um caminho de negociação a ser trilhado para que o ex-presidente aceite falar à Globo e para que a emissora dos Marinho encerre de vez com o veto a ele.  Mas o primeiro passo foi dado. 

Se você não viu ainda, assista aqui à reportagem: