Quem assistiu por toda a vida ao noticiário em outros governos (de direita ou de esquerda), por décadas, sabe que sempre que uma crise se instala, o presidente e seus ministros passam os dias num vai-e-vem frenético, dando entrevistas descabelados e de improviso, propondo soluções, muitas vezes até descabidas. Mas o fato é que parecer engajado é uma premissa para quem quer o poder.
Isso, no entanto, não vale para Jair Bolsonaro.
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Naturalizamos sua negligência e inércia absolutas diante do caos. Morrem 5 mil brasileiros num só dia de Covid e temos deboche, motociata e frases espirituosas como “Quer que eu faça o quê? Eu não sou coveiro”. A inflação explode e se torna a maior desde a chegada do real, há 28 anos, e o bon-vivant segue suas férias andando de jet-ski e fazendo piadas de cunho sexual. A insegurança alimentar atinge 54% dos brasileiros e as reuniões com pastores picaretas só aumentam, com direito a proselitismo religioso demagógico a torto e a direito.
Bolsonaro é uma espécie de personificação cabal da incompetência e da inação política. Não há uma só medida voltada (umazinha que seja) contra problemas como o crescimento da fome, o alastramento da miséria, a explosão cambial do dólar, o desemprego que se mantém em patamares catastróficos, a gasolina que atingiu média de R$ 8 tornando-se inacessível para a maioria da população, enfim. Nada, absolutamente nada faz Bolsonaro vir a público dizer que tem um plano, ou que as coisas não podem continuar como estão.
Até que o WhatsApp informa que seu plano de permitir grupos com milhões de pessoas, que já valerá para todos os países, será atrasado no Brasil para depois da eleição, para evitar o oceano de mentiras toscas da extrema direita que desestabiliza o processo democrático.
Aí o Jair levanta do sofá. E levanta bravo, aguerrido, interessado e vociferante.
Ninguém vê o bufão convocar seus ministros para resolver as filas por doação de ossos, aumentar os estoques de alimentos da Conab e pressionar os preços da comida para baixo, chamar a Polícia Federal para prender a turba de picaretas travestida de evangélicos que saqueia o MEC e carrega barras de ouro de propina, ou ainda dar um jeito no filhote caçula que faz transações comerciais espúrias dentro dos ministérios em troca de mimos. Não, você não vê Bolsonaro mexer um dedo.
Agora, quando a empresa dona do aplicativo de mensagens mais popular do mundo decide implantar uma política que acaba com a disseminação de seu arsenal de mentiras sórdidas... Pronto! O mito se levanta com toda a macheza de sua imbrochável personalidade para intimidar a gigante das redes e exigir, com todo o poder do aparato estatal, que seus interesses imundos e diabólicos sejam preservados. Ele já assumiu que quer uma reunião urgente com o WhatsApp e já ensaia alguma forma de retaliação ao grupo se não puder disseminar suas deletérias baboseiras.
De motociata em motociata e de mentira em mentira, Jair Bolsonaro busca se reeleger para dar continuidade à sua inação por mais quatro anos, evidente e obviamente com o auxílio da tecnologia para impor suas groselhas que encantam a manada irascível em transe permanente.
É como diz o popular ditado: o golpe tá aí, cai quem quer!