EVANGÉLICOS

Mais que votos, precisamos conquistar mentes – Por pastor Zé Barbosa Jr

Mais que votos, que não descansemos até termos um país consciente, laico, com plena liberdade religiosa e não-religiosa onde o ser humano é a medida de todas as coisas

TSE (Divulgação).
Escrito en OPINIÃO el

A sorte está lançada. Só uma reviravolta política de tons apocalípticos tira Lula e Bolsonaro da disputa, no segundo turno, da presidência do Brasil. Com possibilidade de uma vitória petista ainda no primeiro turno.

É comum, e principalmente numa eleição atípica como essa, cujo único objetivo deve ser o de varrer a insanidade, o fascismo e a maldade que tomaram de assalto a cadeira presidencial e parte do Congresso Nacional, que se transforme num pleito onde vale muito mais o fator eleitoreiro que o de conscientização. Não somos ingênuos. Precisamos ganhar essa eleição, e para tanto vale voto de ex-bolsominion, bolsominion arrependido, turistas de Paris e etc. O importante é tirarmos Bolsonaro do poder. Essa praga que assola a terra!

Mas isso ainda é pouco. Muito pouco. Quase nada. Mais que voto, precisamos conquistar mentes, pessoas. Porque se não vai ser tão difícil (ainda que também não seja tão fácil) vencer o falso Messias Jair, vai ser complicado vencer o fascismo, o bolsonarismo e a barbárie que de vez por todas proliferaram qual peste em nosso solo tupiniquim. Essa insanidade geral ainda dará seus botes venenosos por algum tempo.

Para isso é preciso mais. Não basta a sanha por números de votos. É preciso dialogar, convencer, mostrar, argumentar e disputar essa massa. Como pastor evangélico, esse desafio é ainda maior e vai levar tempo. Há muito conservadorismo mesmo entre os que admitem votar na esquerda. Mas isso não é bom? Se olharmos apenas o quadro eleitoral, sim. Mas quando se pensa em governabilidade e um projeto de nação que avance, esse mesmo eleitorado pode ser um entrave. Por isso precisamos ir adiante. Avançar.

Precisamos, no meio religioso, não mais fugir das pautas morais/moralistas, larga e falsamente utilizadas pela direita. E só são utilizadas de forma fraudulenta porque mesmo parte da esquerda evangélica (e candidatos com medo dessa “reprovação”) se recusa a trazer os temas à discussão. Não dá mais pra fugir dessas pautas, sob o risco de que a direita e os fundamentalistas a tomem como propriedades únicas, exclusivas e, portanto, não compatíveis com “a fé cristã”, como se estes fossem os únicos competentes e autorizados representantes dessa fé.

É preciso que discutamos a descriminalização do aborto de forma madura e sem medo, pois uma das maiores mentiras é a de que o movimento conservador é pró-vida e a esquerda é “assassina”. Eles são a favor no nascimento, e ponto. Defendem a obrigatoriedade do parto, e só! A defesa da vida passa longe dos conservadores e fundamentalistas. É preciso que encaremos esses verdadeiros inimigos da vida, amantes das armas, de um estado punitivista, de um racismo estrutural e de fobias e preconceitos que causam mortes todos os dias enquanto eles lotam a frente de hospitais contra crianças abusadas exigindo a “obrigatoriedade do nascimento”. São hipócritas, precisam ser encarados como tal, sem medo!

É preciso que outros temas como descriminalização das drogas, questões de gênero e orientação sexual, demonização das religiões negras e outros tantos temas não sejam mais relegadas a um segundo plano, como se fossem cortina de fumaça. Porque não são. Não pra essa gente negra, pobre, LGBTQIA+ e mulheres que morrem todos os dias por conta de uma política machista, racista, misógina e classista. Chega de termos medo de “perder votos” enquanto muita gente perde a vida. Não dá mais pra ficar parado. Chegou a hora de irmos além.

Mais que votos, que não descansemos até termos um país consciente, laico, com plena liberdade religiosa e não-religiosa onde o ser humano é a medida de todas as coisas. Que a humanidade vença!

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.

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