A canção que dá título a esta coluna foi o grande sucesso do carnaval de 1951. Interpretada por Dalva de Oliveira, foi composta por Fernando Lobo (1915-1996) e Paulo Soledade (1919-1999). Era uma homenagem a Eduardo Martins de Oliveira, o comandante Edu, piloto de avião e líder de um grupo de boêmios muito conhecido no Rio de Janeiro.
Edu tinha morrido num desastre com o avião que pilotava poucos meses antes, em 28 de julho de 1950. Aquele que a música dizia que faltava era ele, figura querida por todos.
Nos últimos dias, essa canção me veio à lembrança. Não exatamente porque sentisse saudade de alguém especial (isso muitas vezes acontece...). Mas por uma razão oposta a essa.
Flordelis dos Santos de Souza, mais conhecida como Flordelis, cantora e pastora evangélica, perdeu o mandato de deputada federal e está sendo julgada pelo assassinato do marido, crime no qual supostamente envolveu filhos.
Também perdeu o mandato e está preso há poucos dias o ex-vereador do Rio Gabriel Monteiro. A quantidade de acusações a que responde é muito grande.
Ambos eram representantes do povo do Rio de Janeiro, tendo sido muito bem votados. Mas têm outros pontos em comum.
São de extrema-direita e apoiadores do presidente Jair Bolsonaro.
Dizem ser "patriotas" e "pessoas de bem".
Afirmam professar uma "fervorosa" fé cristã e eram donos ou frequentavam igrejas neopentecostais, usando repetidamente o nome de Deus.
São expressões da manipulação politiqueira da religião e da "youtuberização" da política, fundada em montagens repletas de falsidades e sensacionalismo.
Mostram que, apesar de suas conhecidas deficiências, a Câmara dos Deputados e a Câmara dos Vereadores do Rio mantêm um mínimo de seriedade, o que as levou a cassar esses dois mandatos.
Flordelis e Gabriel estão presos, acusados de crimes que vão de homicídio (no caso da ex-deputada) a estupro (no caso do ex-vereador), entre outros.
Apesar de tudo, ainda conseguem iludir pessoas ingênuas, desinformadas e de boa fé.
Tanto uma, como o outro, se ficassem soltos seriam uma ameaça à sociedade.
Ambos confirmam dois ditados populares: "As aparências enganam" e "Quem vê cara não vê coração".
Volto, então, à linda canção- título e lembro que está faltando um, pelo menos.
Em janeiro Jair Bolsonaro deixa a Presidência da República. Perde, então, o foro privilegiado, a imunidade e a proteção de Augusto Aras, o procurador-geral da República. Aquele que, de forma escandalosa, impediu que fossem adiante as dezenas de acusações contra ele.
Será a hora, então, de o País cantar o “Zunzunzum”, mas não para homenagear alguma ausência querida, mas para que se faça justiça e Bolsonaro seja julgado, na forma da lei, pelos incontáveis crimes que cometeu.
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum