OPINIÃO

O caso Ilzver - Por Lelê Teles

No Sergipe, um caso de racismo institucional tem chamado a atenção

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O racismo nosso de cada dia, com seus diversos tentáculos, essa patologia social que leva a população negra a esse estado de Maafa constante, como apontou a antropóloga Marimba Ani, segue a todo vapor.

No Sergipe, um caso de racismo institucional tem chamado a atenção.

É que o advogado negro, doutor em direito pela PUC/RIO, e ativista dos Direitos Humanos da População Negra e das Comunidades de Terreiro, foi aprovado em concurso público, em 2019, para dar aula no Departamento de Direito da Universidade Federal de Sergipe.

Porém, antes da posse, um outro professor, de nome Uziel Santana, lotado no Departamento de Ciências Contábeis (!) daquela instituição, pleiteou seu remanejamento para a vaga que estava aberta e que teria sido ocupada por Ilzver.

Santana é presidente da Anajures, uma associação nacional de juristas evangélicos, e causa estranheza o esforço que ele faz para tentar barrar a posse de Ilzver.

Ilzver tem lutado incansavelmente pelo seu direito, e tem contado com apoio de diversas pessoas, entre elas estudantes, professores, juristas, políticos e personalidades, como as cantoras Leci Brandão e Daniela Mercury, o ator Helio de la Peña, o teólogo e filósofo Frei Davi, diretor-executivo do Educafro Brasil, e o maior jurista negro da atualidade, o professor Silvio Almeida.

Inicialmente, o edital do concurso (11/2019) previa seis vagas para ampla concorrência e uma para negro.

O professor Ilzver passou em 2º lugar na ampla concorrência e em 1º nas cotas.

Curiosamente, depois a Universidade Federal do Sergipe empossou 10 aprovados na ampla concorrência.

Mas até hoje não deu posse ao único negro aprovado no edital 11/2019 como cotista.

Nesta sexta-feira, 07/10, na Reitoria da UFS, haverá mais um ato em defesa do professor Ilzver, contra o racismo institucional e pelo cumprimento da Lei de Cotas.

A Assembleia Legislativa de Sergipe (Alese), em Grande Expediente da Sessão Ordinária da Casa, recebeu o professor Ilzver, no dia 05, a convite do deputado Iran Barbosa (Psol). Na ocasião, discutiu-se a efetividade das políticas de cotas na Universidade de Sergipe.

Sergipe tem 2,3 milhões de habitantes, destes, 80% se declaram negros. Ilzver é um farol para toda essa gente, porque é um exemplo e ajuda a iluminar o caminho daqueles que querem fugir das armadilhas do determinismo social que imobiliza a juventude negra.

O Brasil adotou diversos mecanismos de reparação histórica, o sistema de cotas é o mais visível e o mais eficiente deles, no entanto, diz o professor Ilzver, “a UFS tem tido uma postura sempre reativa e não protagonista na aplicação dessas políticas afirmativas. Ela espera que as instituições fiscalizadoras, ou que os movimentos sociais reclamem o direito, para só então aplicá-lo.”

É importante salientar que essa não é a primeira vez que a UFS é acusada de não cumprir a lei de cotas. Entre 2014 e 2018, das 174 vagas ofertadas para docentes, apenas 2 foram ocupadas por negros, o que representa 1,14%; a lei determina que 20% das vagas sejam destinadas a pretos e pardos.

Ao final da sua fala na Alese, Ilzver desabafou: “É muito grande a exclusão da população negra da Universidade Federal de Sergipe, seja como aluno ou professor, e nós estamos falando da instituição que possui o terceiro maior orçamento em nosso estado, com quase R$ 774 milhões. São recursos públicos que estão servindo à exclusão da população negra em Sergipe. Isso é grave e criminoso. E a UFS precisa entender que ela não é uma ilha, apesar de querer ser impoluta, a única limpa, honesta, digna, no meio do caos que aqui expusemos”.

O Caso Ilzver não é um caso isolado, mas também não será mais um caso esquecido.

A luta pela posse de Ilzver é uma luta por nossos direitos e não arredaremos o pé enquanto o caso não for solucionado.

Axé!

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum