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Bolsonaro já disse que mataria FHC e hoje PSDB se declara "neutro"

No epitáfio do Partido da Social Democracia Brasileira, cimentado esta terça em seu jazigo, lê-se a sentença de Pessoa. "O verdadeiro cadáver não é corpo, mas aquilo que deixou de viver". O enterro foi agora, mas a passagem começou com Aécio

Rodrigo Garcia e Jair Bolsonaro.Créditos: TV Globo/Reprodução
Escrito en OPINIÃO el

O Partido da Social Democracia Brasileira, para os mais íntimos PSDB, foi sepultado nesta terça-feira (4), após um longo velório que se iniciou ao final do segundo turno da eleição de 2014, quando Aécio Neves não aceitou a derrota para Dilma Rousseff (PT) e resolveu questionar a lisura do invejável sistema eleitoral do país, incendiando a democracia.

Hoje, depois da reunião do diretório nacional da sigla, que nasceu como um fruto das lutas pela redemocratização de um Brasil que atravessou 21 anos de Ditadura Militar e anos turbulentos após a chegada do primeiro presidente civil ao Palácio do Planalto, resolveu-se que entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL), o melhor era ficar neutro e deixar os diretórios estaduais livres para fazerem o que lhes desse na telha.

Na solene decisão é possível inferir que Lula e Bolsonaro são a mesma coisa, quando na verdade o primeiro é um político tradicional e adversário histórico do PSDB e o segundo é um aspirante a ditador, expoente máximo da extrema direita e do neofascismo que assusta o mundo, tramando o golpe final para demolir de vez o Estado Democrático de Direito no Brasil.

Vejam só. O PSDB optou por não se colocar contra Jair Bolsonaro, que em 1999 disse que, por ele, mataria 30 mil brasileiros, se preciso fosse, para instalar uma ditadura no país, começando por Fernando Henrique Cardoso, presidente de República à época e único quadro tucano que atingiu o cargo máximo da nação pelo partido.

O anúncio mais covarde da história do partido, que já foi um gigante da política brasileira, serviu para gente de todo tipo, abrigada sob o guarda-chuva tucano, sair correndo para rasgar a fantasia e colocar pra fora todo o bolsonarismo contido nas entranhas, como o governador paulista derrotado Rodrigo Garcia.

A morte do PSDB foi uma morte horrível. Daquelas que ocorrem no meio rua, com todos os transeuntes olhando. Não se restringiu apenas a Aécio e sua sanha pirofágica. Houve também as peripécias de João Doria, que há quatro anos bajulou o monstrengo de contornos pinochetistas para descolar uns votos e acabou aniquilado covardemente pelo dito cujo.

Nesta terça chuvosa, com o badalar dos sinos do cemitério ecoando até as mais longínquas ruas do grão-ducado de Higienópolis, era possível ver a lápide que seria cimentada no jazigo tucano.

Ela trazia a palavra de Fernando Pessoa em tom de adágio popular:

"O verdadeiro cadáver não é corpo, mas aquilo que deixou de viver"

Não precisava se manter "neutro" diante da ameaça do homem que quer pôr fim à democracia, mas ainda assim precisamos reconhecer que o enterro do PSDB foi agora, mas a passagem para o plano espiritual onde jazem as almas políticas desencarnadas começou com Aécio.