Há anos morri de rir de um adesivo que circulava em automóveis em que se lia: “foda-se o Mico-Leão-Dourado”. Minha esposa prontamente me chamou a atenção. Na época não me dava conta. E, mesmo entre alguns militantes do campo progressista, havia um certo tratamento pejorativo com os ambientalistas, chamados então de “abraça árvores”, entre outros termos.
Fazer política é, sobretudo, ouvir, estudar, compreender e compartilhar conhecimento, rever conceitos. Ninguém defende o Meio-Ambiente como quem torce pro Santos ou pro Corinthians. Entender o mal que a devastação e o desmatamento provocam na nossa vida na terra é resultado de reflexão.
Te podría interesar
Fazer com que isso pareça algo secundário, digno de piadas é também uma construção. A muitos não parece que a vida no planeta vá se deteriorar em tão pouco tempo. Ao menos no tempo em que durar a nossa vida por aqui. Pensar para daqui a cem anos parece aos incautos uma estupidez. Nenhum de nós vai estar vivo.
Nada mais antimarxista do que isso.
Te podría interesar
A quantidade enorme de votos que teve o ex-ministro do Meio-Ambiente Ricardo Salles, no entanto, parece querer nos dizer que os que dão risada do Mico-Leão-Dourado venceram. Salles, a quem não lembra, é aquele mesmo ministro que foi filmado aconselhando o presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus colegas a aproveitarem o drama que todos vivíamos com a pandemia do Coronavírus pra “passar a boiada”, ou seja, devastar, desmatar, destruir.
O mesmo ministro acusado de ser traficante de madeira.
Salles teve, nestas eleições de 2022, mais votos do que Marina Silva, uma das ambientalistas mais respeitadas do mundo. Um luxo brasileiro que deverá ser, assim como seu mentor, o líder seringueiro Chico Mendes, estudada em livros escolares. Eles sim, por séculos à nossa frente.
A votação massiva de Salles nos alerta: a construção no consciente coletivo dessa mentalidade destruidora parece se disseminar feito fogo em mato seco.
O planeta é a nossa única fronteira.
Resta a nós agora, compreender a complicada lição de como um sujeito que se comporta exatamente como o bandido de desenhos animados e histórias infantis tenha se transformado em um dos heróis de parte da nossa elite.