Em março de 2019, no prelúdio do mandato que teria pela frente, Jair Bolsonaro confidenciou a lideranças conservadoras nos Estados Unidos: “o Brasil não é um terreno aberto onde nós pretendemos construir coisas para o nosso povo. Nós temos é que desconstruir muita coisa. Desfazer muita coisa”. Ele vinha para desconstruir, desfazer. Em outras palavras, destruir. E assim o fez.
Humilhou a imagem de Chefe de Estado do Brasil, ajoelhando-se unilateralmente a Trump, insultando nações estrangeiras e assumindo pautas internacionais notadamente incivilizadas. Cedeu ao rentismo, privatizando e entregando, tanto quanto possível (e de bandeja), recursos estratégicos e riquezas nacionais. Sabotou a máquina, sucateando o serviço público e prejudicando investimentos sociais básicos. Reduziu ao pó a proteção laboral e assistiu de camarote a escalada do desemprego. Transformou instituições de Estado em sucursais de seus interesses privados, blindando a si e seus parentes de investigações e perseguindo os demais. Não bastasse, condescendeu com sonegadores de impostos, mercadores de armas, com o porão da marginalidade. Estimulou madeireiros, garimpeiros ilegais, devastadores assumidos de matas e povos das florestas. Protegeu predadores do agronegócio.
Afrontou outros poderes e balançou os pilares da democracia. Quando não mirou o Congresso (hoje rendido à imoralidade de um orçamento dito secreto) mirou o Judiciário. Nunca o sistema de Justiça foi tão ultrajado como agora. Descumpriu normas, debochou de decisões, difamou ministros, incendiou a sociedade com fake news desacreditando até mesmo o sistema eleitoral. Chegou ao cúmulo de conceder graça a um criminoso condenado por patrocinar e estimular atos antidemocráticos e ofender a honra da Suprema Corte e de seus integrantes. Às vésperas do segundo turno a dúvida é se fará o mesmo com outro notório bandido reincidente que atirou, arremessou granadas e feriu, por pouco não matando, policiais federais.
Na pandemia virou as costas para governos de todos os níveis federativos. Tripudiou e fez chacota do sofrimento do povo no momento em que mais se precisou de um líder. Corroborou pessoal e tenazmente com o caos. O acumulado de hoje registra 687.713 histórias interrompidas. Entes que poderiam estar aí se não fosse sua má vontade com a causa da proteção do ser humano.
A sanha destrutiva de Bolsonaro fez do politicamente correto letra morta. Por meio de sua indução ou negligência foram potencializadas a misoginia, o racismo, a homofobia, a xenofobia, a truculência policial, a opressão à imprensa e movimentos sociais, a ignorância no linguajar, a brutalidade no agir. Na educação, a desinformação prevaleceu contrariamente ao conhecimento; na cultura, preponderaram a negação das experiências humanas e da memória; na diplomacia, a guerra avançou em tempos de paz; na política, a violência virou método e o barbarismo virou fim.
Ao promover o ódio e a desavença, o bolsonarismo foi explodindo relações essenciais à vida de qualquer pessoa. Dividiu famílias, fraturou amizades, roubou coisas aparentemente simples, mas individualmente significativas, como o orgulho de poder mostrar-se brasileiro ostentando as cores do país ou o direito de entregar-se à fé sem o receio de embarcar em armação politiqueira.
O esfacelamento social de Bolsonaro tem como alvo a fraternidade. Mira mais além de razões políticas ou motivos econômicos, ele fulmina o amor humano. Bolsonaro opõe pais a filhos, pastores a fiéis, nordestinos a brasileiros – tratando o Nordeste como um tumor maligno do país.
Bolsonaro é a peste. É a praga e a tormenta, a agonia e o mal. O mal que será defenestrado da presidência no próximo dia 30 de outubro. O mal que receberá um não enfático de quem já não suporta mais viver em clima permanente de discórdia. De quem quer ter paz para continuar tocando a vida e saúde para usufruir cada dia possível ao lado de suas pessoas queridas. O pesadelo que assombra o presente não vingará para as gerações futuras. Brasileiras e brasileiros de todo país optarão pelo respeito, pela sensibilidade, a generosidade e o sossego, por isso escolherão Lula, um construtor de sonhos, de afetos... a esperança.