É nítido, transparente e notório que a grande mídia, como parte fundamental do aparato ideológico da classe dominante, tem buscado esterilizar e subtrair a candidatura de Lula - seu plano B para terceira via - da base social organizada que a sustenta e consolida.
Naquele famoso áudio de André Esteves (BTG Pactual), de outubro do ano passado, a linha já estava definida: para cumprir a agenda do Mercado, tanto faz quem vai fazê-la.
A elite econômica não tem paixões, ao contrário do que certa militância acredita. Ela tem interesses. Claros, inequívocos e bem definidos.
Pois bem, André Esteves, em fala dirigida aos operadores do mercado financeiro, estabelecia um possível script para cada candidato:
- Para Bolsonaro, bastava calá-lo, para não falar tanta asneira.
- Sobre Lula, em palavras literais do banqueiro: "o problema não é Lula, mas o PT e o restante que vem junto com ele".
Não por acaso, em dobradinha combinada, os jornalões enaltecem a caminhada de Lula ao centro - leia-se, à direita - e, ao mesmo tempo, a Globo resgata o atentado contra Celso Daniel e as histórias do suposto mensalão para bater, não em Lula, mas no PT, na esquerda e em sua base social.
Este é o jogo. Eles aceitam Lula esterilizado, Lula sem base social ativa e organizada, Lula como souvenir.
Não há disfarce, nem malabarismo nesta estratégia.
O triste, o lamentável, contudo, é que parte da campanha de Lula - e ao que parece, o próprio Lula - aderiu a esta visão.
O messiannismo em torno de Lula, que sempre foi combatido pela direita (e esquerda?) weberiana, contraditoriamente, está sendo usado por esta mesma gente para descolar a persona da ideologia materialmente consolidada em partidos e organizações.
Não é só golpe de marketing, a la Duda Mendonça, não se trata só de descolorir a bandeira vermelha ou entoar mantras de paz e amor.
É algo muito mais orgânico.
Que a direita aja assim, é do jogo.
Que a esquerda ou o campo progressista compre e desenvolva esta ideia é lamentável, para dizer o mínimo.
Suicídio político, temperado com auto-engano consentido.
Não temos este direito histórico, companheiros/as e camaradas.
Deixemos as ilusões para tempos melhores.
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.