“o mito é o nada que é tudo”. Fernando Pessoa
Sarguei, o Homo Saquaremicus - boca de Mique Jegue e corpo de Keith Richards - contou aos 4 ventos uma mentira cabeluda - aliás, cabeludíssima como um metaleiro - a de que havia comido, sexualmente, a grande e amada Janis Joplin...
“Cryyyyyyyyy, baby....”
Claro que não houve testemunhas, eram somente Janis, Serguei e a praia de Saquarema, em pleno carnaval carioca.
Ah, mas tinha um holandês anônimo com eles, dizem uns, que é o mesmo que dizer que havia ali uma gaivota ou um fantasma.
A última vez que um holandês apareceu na história do Brasil, o cabelo de espiga de milho disse que faria um boi voar no céu do Recife.
Desconfie de qualquer estória que metam nela um holandês!
O fato é que essa farsa erótica, sonho de todo punheteiro emaconhado, elevou Serguei à condição de ídolo do roque brazuca.
Testemunha ocular do desbunde que foi a frenética cena rock/hippie sessentista e setentista, a história de SerGay andava na boca de tudo quanto era maluco, como uma quimba de baseado.
Mas o nosso maracujá de gaveta não nasceu pra ser Ventania, o cabra não se contentaria em entrar para a história como uma subcelebridade de acampamentos.
Contando com a ajuda de amigos televisados, o sujeito se tornou o primeiro rock influencer.
Sem fazer um solo de guitarra, sem morder o pescoço de um morcego, nada.
Disse que comeu a Janis e, no Brasil, isso basta.
Ah, andou a dizer, também, que fez sexo com uma árvore, mas disso ninguém duvida; as árvores, todos o sabemos, não têm pernas pra correr e nem braços pra se defender.
E com esse taradismo, e essas histórias literalmente cabeludas, o cabra virou arroz de festa de programas televisivos.
Vivo fosse, estaria, sem dúvida, aglomerado na casa do Big Brother tentando comer uma samambaia, um jovem sertanejo tatuado, uma funkeira popozuda ou uma travesti desconstruída.
Comer ou ser comido.
Enquanto viveu, teve seus dias de glória, celebrizou nas mídias, fez caras e bocas, contou casos e causos da psicodélica mitologia roqueira e da ripongagem e, mesmo afônico, rouco como uma arara, cantou (!!!) no Rock In Rio, o maior festival de rock do planeta terra.
O sujeito cheio de trejeitos - quem o diria? - se arrastou no mesmo palco em que pisou o inigualável Fred Mercury!
Pansexual, panafricanista, panamericano e pândego, foi uma espécie de Palhaço Krusty do roque nacional, ninguém sabe do que vivia, mas sabe-se que o seu escritório era na praia.
Talvez sobrevivesse da venda de colares e pulseiras de miçangas ou do serviço de cartomante tropical, como uma Mãe Dinah acidificada.
Há quem diga que foi ele quem emprestou a famosa microtanga de crochê para o Gabeira.
Durante o Verão da Lata, o nosso intrépido Serguei foi um exímio coletor, ficou conhecido pela sua bravura ecológica em limpar as praias cariocas.
O velhaco juntou tanta lata em sua barraca que se tornou uma espécie de Popeye de Saquá, tava sempre a mastigar um espinafre num cachimbo.
Um ícone inconteste, a cara do roque nacional: farsesco, debochado, magro como um faquir, alegre ma non troppo, brincante, tristemente poético, belo em sua feiúra e toscamente original em sua precária condição técnica.
Salve o grande SerGay, o primeiro cabra a fuder essa noção de gênero, já era ele/ela/ile antes de isso virar modinha; esse, sim, chuparia o cu do Olavo de Carvalho numa boa, bicho!
Palavra da salvação!
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