Todo mundo sabe que Bolsonaro não é cristão. Seu deus é ele mesmo e seus “meninos” (a menina tá fora, foi uma fraquejada, e deuses como Bolsonaro não têm pontos fracos). Ele simplesmente usa a religião para sua performance eleitoral. Os pastores que o acompanham sabem disso. E o acompanham exatamente por conta disso: porque também não acreditam em Deus e fazem da religião o seu trampolim para o poder. Seja pastoral ou político, é o poder que lhes interessa.
Dentro dessa lógica do uso da religião, o atual presidente atua de acordo com os conselhos de seus mentores, principalmente Malafaia e Josué Valandro Jr, entre outros. E ele aposta, óbvio (como faz em seu desgoverno), no que há de pior. Jair joga sempre com o mais absurdo, patético e desprezível: é aí que está a sua base. E, no caso evangélico, ele apostou na perversão evangélica, naquilo que há de pior nos evangélicos e que, infelizmente, é justamente o que essa facção cristã mais celebra: a sua não semelhança com o Cristo.
Bolsonaro, por exemplo, aposta no negacionismo. O movimento fundamentalista evangélico é, em essência, negacionista. Ele surge assim, no final do século XIX e início do Século XX exatamente como resposta ao “liberalismo teológico”, que era um movimento de teólogos que dialogavam com as diversas ciências e, por isso mesmo, propunham novas interpretações do texto bíblico e novas teologias, mais dialogais e menos dogmáticas. Em contraponto a este movimento de “abertura da mentalidade evangélica”, os mais conservadores emitiram uma série de afirmações/documentos a que chamaram de “The Fundamentals”, que eram dogmas “inegociáveis” para esses conservadores, daí (do “the fundamentals”) surgiu a pecha de “fundamentalistas”.
Desta forma, ser negacionista não é uma característica de Bolsonaro, mas uma opção política, baseada numa concepção religiosa que agrada em cheio o núcleo duro de seus eleitores: os fundamentalistas cristãos.
Ser racista, machista, homofóbico e defensor da meritocracia também faz parte dessa perversão evangélica bolsonarista. A pergunta que comumente se faz é “- Quando os evangélicos passaram a ser assim?” quando, na verdade, a pergunta deveria ser “- Quando alguns evangélicos deixaram de ser assim?” A igreja evangélica brasileira é, em sua gênese, racista, machista, homofóbica, meritocrata... a mudança é exatamente esse grupo, cada vez maior, de pessoas que entenderam o Evangelho e, por isso mesmo, romperam com essa tradição fundamentalista/conservadora.
Sendo assim, há de se esperar cada vez mais que Bolsonaro aposte nessa perversão negacionista, e em suas mais diversas perversões que encontram espaço no fundamentalismo intrínseco de grande parte da massa evangélica brasileira.
Mas há solução: o encontro dessa massa com o Evangelho simples e libertador de Jesus, o pobre de Nazaré, não-branco, questionador dos poderes religiosos, partidário dos pobres e oprimidos, subversivo e extremamente amoroso e promovedor de afetos. É por aí que nós, evangélicos “progressistas” temos construído uma outra narrativa possível e que, graças a Deus, já tem desconstruído muito desse fundamentalismo barato, perverso e que nada tem a ver com os falsos “Messias” que se arvoram donos do poder. Estes cairão, pelo voto e pelo esquecimento.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.