Por não ser exatamente uma cantora no sentido estrito da palavra, de vozeirão enorme, e ter se destacado no programa Big Brother Brasil, da Rede Globo, Juliette tem sofrido várias críticas contundentes. Após isso, a artista provocou uma certa inveja, sobretudo no meio, ao ser chamada – não sem motivos óbvios que remetem ao seu talento – por artistas como Gilberto Gil e Elba Ramalho para fazer lives.
O resultado, a mistura do BBB 21 com o aval de grandes artistas, deu certo e a sua página no Spotify, por exemplo, que tem apenas cinco canções, conta com mais de três milhões de ouvintes mensais. Curiosamente nem Gil, nem Elba, apesar de longevas carreiras, contam com essa quantidade.
Mas, enfim, vamos à música propriamente dita, que é que interessa. Bem, a menos deveria, pois o fato de ser bonita, extremamente simpática e simples também colaboraram e muito para o seu sucesso instantâneo. Isso, no entanto, não é nenhuma novidade dentro da música pop no mundo todo.
Por mais que reclamem os puristas e musicistas mais exigentes, Juliette é uma ótima intérprete. Tem todos os elementos para transformar uma canção simples em algo agradável, sem afetações. Sua voz não tem nada de estrondosa, grandiosa, mas é bonita e afinada.
Soma-se a isso tudo o repertório que escolheu para se lançar. Há tempos não aparece alguém que, assim como ela, faz música nordestina boa, sem apelações, vocais tremelicados e letras escandalosas. Juliette vai na boa. Nas canções que gravou não há nenhum sucesso do passado – isso ela deixou para cantar durante o BBB21. São, ao que parece, composições inéditas, entre elas uma linda surpresa da colega Anitta, em parceria com Umberto Tavares e Mãozinha, produtores do Show das Poderosas, música que levou a funkeira para o estrelato nacional.
Mas que ninguém espere nada parecido com o som de Anitta. Quase ao contrário, trata-se de um xote suave, com letra ingênua e romântica, tratada com instrumentos acústicos e, mais uma vez, uma ótima interpretação de Juliette.
O álbum segue na mesma unidade, com ritmos nordestinas. Vale destaque para “Diferença mara”, de Dan Costara e Juzé, com versos que partem da mesma ideia de “Noite dos mascarados”, de Chico Buarque: “Eu sou do Nordeste, ele é do Sul, Prefere rap e eu sou mais Gadú, Ele vem de bicicleta, Eu que nunca fui atleta”, para concluir de maneira graciosa no refrão: “Ah, teu beijo me deixou de cara, A nossa química é rara, Nossa diferença é mara”.
Vale e muito ouvir da saída e acompanhar a carreira de Juliette. Apesar de tudo o que se passa no seu entorno, ou seja, um grande esquema de lançamento, a participação no BBB21 etc., ela consegue transpirar verdade na maneira como canta, no que canta e como se apresenta.
Aos descontentes e reclamões ela parece ter a resposta na ponta da língua na canção “Bença”, da mesma dupla Costara e Juzé: “Não me arrependo de nada, não, Porque foi tudo de coração, Na vida a gente colhe o que planta”. E arremata: “Mas é que eu venho lá do sertão, O coco é seco demais, irmão, E o preconceito ?u só engulo com farinha”. https://open.spotify.com/artist/5coW9ioCpvEYGx4v1nvWec?si=pxlQruYtRLqsQQBc1iClOA&dl_branch=1