Vontade de gostar do Brasil de novo – Por Mouzar Benedito

Procurando algo divertido no Brasil atual, achei: os nomes de muitas cidades

Imagem: Mapas Antigos (Reprodução)
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(Procurando algo divertido no Brasil atual, achei: os nomes de muitas cidades)

Saco cheio! Quem não está? Bom, não precisam responder. Tem um pessoal gostando muito da situação de pária do mundo e do miserê crescente aqui, e querendo mais.

Eu sempre gostei de ser brasileiro, acreditei no admirável Darcy Ribeiro que previa que aqui nasceria uma nova civilização, formada por um novo povo espetacular, mestiço, com as qualidades dos pretos, dos brancos, dos indígenas e dos orientais. Agora, só tendo notícias ruins e vendo boa parte das pessoas “se revelando”, como realmente são, dá muita tristeza.

Procurando me “alienar” um pouco, intencionalmente, com saudade do Brasil que eu sempre gostei, comecei a me lembrar de nomes muito curiosos de cidades brasileiras. Sempre tive essa mania, desde criança. Não me apeguei às de nomes tupis, como já fiz muitas vezes, nem entender porque receberam esses nomes. Só me distrair um pouco.

Se algum leitor quiser acompanhar a minha viagem imaginária, venha comigo.

Orocó, Cabrobó e Bodocó

Para não dizer que não falo de nenhuma cidade de nome tupi, vou começar falando de algumas delas (e seus significados), antes de entrar em outras do tronco macro-jê, antigamente chamado tapuia.

É que Jijoca de Jericoacoara, Pindamonhangaba e Itaquaquecetuba sempre provocam curiosidade. São nomes tupis. Uma cearense e duas paulistas. Jijoca é casa (ou paradeiro) das rãs (ji: rã; oca: casa) e Jericoacoara é refúgio (ou buraco) das tartarugas. Então essa cidade cearense junta moradias de rãs e tartarugas. A paulista Pindamonhangaba é “onde os homens fazem anzóis”, ou seja, fábrica de anzóis; e Itaquaquecetuba, também paulista, é “lugar abundante em taquaras que cortam que nem faca”.

Ah, aí me lembrei de outra com nome jê, que também atrai muita curiosidade: Quixeramobim, no Ceará, nome que significa carne gorda.

Bom, a primeira vez que viajei para o Nordeste, pelo rio São Francisco, cheguei em Pernambuco e conheci cidades com o nome terminado em ó. Curioso, vi que em outros estados nordestinos também há muitas cidades com essa terminação, seja no singular ou no plural. Quase todas são de povos de línguas do tronco macro-jê (que inclui o Cariri). Algumas são de origem tupi, mas finjo que não.

Imaginei um time de futebol com jogadores que seriam apelidados com o nome da cidade de origem. Vejam que timaço: Orocó (PE), Cabrobó (BA) e Bodocó (PE); Icó (CE), Piancó (PB), Caicó (RN), Codó (MA) e Caxingó (PI); Chorrochó (BA), Choró (CE) e Jaicós (PI). No banco de reservas, ficariam os cearenses Orós e Quixelô (terminado em ô, não em ó), Cajapió (MA) e outros que têm a terminação ó, mas com certeza são tupis, como Itororó (BA), Caarapó (MS), Caparaó (MG) e Peritoró (MA). Isso sem contar cidades também com nomes jês com outras terminações, como o charmoso nome Quixadá.

Santos que nunca vi

Cidades com nomes de santos são muitas, e nisso Minas Gerais é campeã. Mas tem cada santo! Vejam nesses nome de cidades se algum deles é o de sua devoção.

Começo por Santana... Tem muitas “Santanas”, mas vejam essas: em Minas Gerais, tem Santana do Deserto, Santana do Jacaré e Santana do Garambéu. Em São Paulo, Santana da Ponte Pensa (SP); e na Paraíba, Santana dos Garrotes.

Deixando as “Santanas”, vejamos outros santos interessantes. Em Minas Gerais, tem Santo Antônio do Aventureiro, São Joaquim de Bicas, São Tomé das Letras, São Geraldo do Baixio e São José do Mantimento, sem contar uns povoados como São Sebastião das Três Orelhas, no município de Gonçalves. E em Minas mesmo tem Bom Jesus do Galho. No Rio Grande do Sul, tem Santo Antônio da Patrulha, São Sepé (este nome em homenagem a Sepé Tiaraju, que liderou o povo Guarani na resistência contra os espanhóis e portugueses), São João do Polêsime e São José dos Ausentes. No Paraná tem Santa Cecília do Pavão e São José da Amoreira (epa! Goiabeiras, também no Paraná, não é nome de santo, mas lembro que a ministra dos pretensos Direitos Humanos disse ter visto Jesus numa goiabeira, e ela é paranaense). No Maranhão, tem Bom Jesus das Selvas e São Pedro dos Crentes; no Espírito Santo, São José do Calçado; e na Paraíba, São José das Espinharas e São Bentinho (PB). Em Santa Catarina tem Santa Terezinha do Progresso e em Mato Grosso tem Santa Rita do Trivelato. Mas o que achei mais interessante é a goiana Santa Rita do Novo Destino.

Vontade de ir lá

Algumas cidades têm nomes que sugerem paz, tranquilidade, lugar pra ficar à toa, passear com alegria. De novo, Minas Gerais, se destaca com Bom Repouso, Passa Tempo, Espera Feliz, Boa Esperança, Recreio, Maravilhas, Pescador, Chácara, Ponto Chique e Serra da Saudade (cidade com menor população do Brasil). No Maranhão tem Bom Lugar, no Piauí tem Boa Hora e na Paraíba tem Sossêgo. No Rio Grande do Sul tem Travesseiro, Chuvisca, Segredo e Xangri-Lá; em Santa Catarina, Descanso e Fogueira. No Paraná, Céu Azul, Roncador e Quinta do Sol; Em Goiás, Vila Boa, Chapadão do Céu e Vila Propício. No Pará, na Bahia e em Mato Grosso do Sul tem cidades chamadas Bonito, sendo que em Mato Grosso do Sul tem também Inocência, Jardim e Sonora; e no Pará, Primavera. Em Mato Grosso tem Sorriso e Tesouro. No Ceará tem Aurora, Caridade e Graça, e no Piauí tem Regeneração. Em Tocantins tem Rio Sono, no Espírito Santo tem Alegre, em São Paulo; Promissão, Brejo Alegre e Arco-Íris.  Na Bahia, tem Mansidão e Boa Nova, e em Sergipe, Ilha das Flores. Pernambuco também é farto de nomes que atraem: Belo Jardim, Chã de Alegria, Dormentes, Bom Conselho e Venturosa.

Aqui, complica

Alguns nomes sugerem encrenca. Minas Gerais vence nisso também: Tiros, Tombos, Extrema, Fervedouro, Reduto e Chiador. No Rio Grande do Norte tem Pendências, e no Rio Grande do Sul tem Sério e Derrubadas. Em Santa Catarina tem Sombrio; no Paraná, Contendas; em Goiás, Trombas; em Tocantins, Lagoa da Confusão, em São Paulo, Bofete e Socorro; em Pernambuco tem Custódia, e na Bahia tem Contendas do Sincoré.

O que isso quer dizer?

Continuo a viagem não procurando saber o que significam os nomes de algumas cidades, mas achando muito esquisitos/interessantes: Coxixola, Maturéia e Casserengue (PB); Parobê, Caibatê, Unistalda e Muliterno (RS); Xanxerê, Zorté e Iomerê (SC); Xambrê, Piên, Verê, Virmond e Kalorê (PR); Brazabrantes (GO), Bannach (PA), Milhã e Moraújo (CE); Pariconha e Quebrangulo (AL), Tuntum e Trizidela do Vale (MA); Jurumenha (PI), Tapurah (MT), Quissamã e Seropédica (RJ) e Canitar (SP). E mais: Quijingue, Mortugaba e Carinhanha (BA), Calçoene (AP) e Cantá (RR), Muribeca e Canhoba (SE). Passira (PE), Theobroma e Chupinguaia (RO).

O famoso senhor fulano

Ah, gente! E homenagens a um cidadão ou uma cidadã ilustre? Tem cada nome interessante! Nem vou entrar em nomes como Governador Valadares, em Minas, que se chamava Figueira e mudou de nome em homenagem ao governado Benedito Valadares, virou uma cidade grande, mas com tanta gente migrando para os Estados Unidos que passou a ser ironicamente chamada de Valadólares. Ou Mimoso do Oeste, na Bahia, que puxa-sacos de ACM mudaram de nome para Luís Eduardo Magalhães, filho do Toninho Malvadeza. Muitas e muitas cidades tinham nomes bonitos ou interessantes, e mudaram para homenagear políticos, pioraram muito. Sem contar cidades que já surgiram com o nome homenageando alguém, como é o caso (acho) de Braganey, no Paraná. Queriam homenagear o governador Ney Braga, mas na época (1983) já era proibido dar nome de gente viva a cidades, então inventaram isso de inverter nome e sobrenome.

Há homenagens que despertam a curiosidade, provocam. Algumas por darem à cidade um nome sem sobrenome, nem a terminação “polis” ou “lândia”. Outras cidades, por usar diminutivos ou apelidos. Vejam alguns exemplos:

Dona Inês (PB), Tio Hugo e Glorinha (RS); Capitão Poço (PA), Zé Doca, Jenipapo dos Vieiras e Centro do Guilherme (MA); Vera, Carlinda, Denise e Juscimeira (MT); Anastácio e Vicentina (MS); Rio Preto da Eva (AM), Oliveira de Fátima (TO), Porciúncula (RJ); Adolfo, Magda, Zacarias, Dirce Reis e Fernão (SP) e Pintópolis (MG); Pedrão (BA), Jordão (AC), Coité do Noia (AL), Frei Miguelinho, Canhotinho, Moreno, Terezinha e Afrânio (PE);

Neste quesito, deixei pra falar de Goiás por último, pois nesse estado há fartura “polis” e “lândia”. Antes de entrar nessas terminações, lembro de Heitoraí. Mas até eu me sinto homenageado em Goiás (rê-rê...) com a cidade chamada Mozarlândia. E tem Sanclerlândia, Ivolândia, Doverlândia, Simolândia, Inaciolândia, Israelândia, Aurilândia, Damolândia... além de umas que parecem não ser homenageando gente: Turvelândia, Portelândia.  Perolândia. Com a terminação “polis”, tem Amorinópolis, Avelinópolis, Cristianópolis, Davinópolis, Jesúpolis...

E para terminar...

Bom, poderia esticar muito aqui, lembrar que no Brasil existem cidades chamadas Palestina, Nova Iorque, Flórida, Loanda, Costa Rica, Filadélfia, Normandia, Mar Vermelho... É Brasil mesmo?

Para não esticar mais, prefiro terminar com cidades que me atraem pelo nome curioso. Aí vão elas:

Reserva do Cabaçal (MT), Passa-e-Fica e Venha-Ver (RN), Varre-Sai e Paty do Alferes (RJ). Bom Princípio do Piauí, Jardim de Piranhas e Jardim do Mulato (PI), Boa Vista do Cadeado, Não-Me-Toque, Arroio dos Ratos, Faxinal do Soturno e Picada Café (RS); Carrasco Bonito e Novo Acordo (TO), Laranja da Terra (ES); Trombudo Central e Braço do Trombudo (GO), Garrafão do Norte (PA), Amontoada (CE), Tartarugalzinho (AP), Olho d’Agua das Cunhãs (MA), América Dourada e Caldeirão Grande (BA), Feliz Deserto, Chã Preta e Jacaré dos Homens (AL); Porto da Folha, Divina Pastora e Tomar do Geru (SE), Lagoa dos Gatos (PE)... e concluo mais uma vez com nomes de cidades mineiras: Fruta de Leite, Sem-Peixe, Entre Folhas, Puimhi, Ponto dos Volantes, Passa Quatro, Passa Três, Passa Vinte, Catas Altas da Noruega e Mar de Espanha.

Ufa! Quantas cidades dessas vocês conhecem?