Sejamos claro, se o voto fosse impresso, em vinte e dois, Bolsonaro perderia a eleição do mesmo jeito.
Portanto, não é o voto impresso que Bolsonaro quer, ele não quer é que tenha eleição.
A iminência de uma derrota fragorosa tem levado o autocrata ao desespero.
Há razões de sobra pelo temor do sufrágio, além da perda do poder, ao qual está atrelado há mais de 30 anos, há questões jurídicas e legais que podem levá-lo a um tribunal, seja em Haia, seja numa vara patrícia.
Pesa contra o sujeito acusações de ecocídio, genocídio, crime contra a saúde pública, crime contra a humanidade, além de incontáveis crimes de responsabilidade que podem arrancá-lo da cadeira presidencial.
Toda essa celeuma em torno da impressão do voto é apenas para impressionar e engajar o gado bípede em torno de mais um teoria da conspiração.
Assanhando seu rebanho irascível e irracional, o Presida cria um clima de suspeição do pleito e joga no colo de Barroso – sim, ele já escolheu um inimigo – a humilhação e o constrangimento da autodefesa, do excesso de justificativas; sempre questionadas e desacreditadas por seu acusador.
Barroso, em sua fleuma serena, tenta explicar que a confusão, o furdunço, a gritaria e a agitação faria de uma possível auditoria dos papeizinhos uma algazarra de difícil controle.
Em primeiro lugar porque Bolsonaro já disse que não aceitaria que Barroso contasse os votos, como se Barroso contasse votos, e em segundo lugar porque o próprio futuro derrotado elegeria seus delegados, delegando a eles o poder de contestar o que a impressora imprimirá.
Seria como aqueles bêbados que, de cara cheia, chamam o garçom, mostram a comanda e alegam, peito estufado: “tá errado, eu só tomei dois chopes...”
Ademais, teremos 500 mil urnas eletrônicas espalhadas pelo país, em cada uma delas teria uma comissão de perdigueiros empertigados e já com a mentalidade formada de que se Bolsonaro perder alguma coisa tem que estar errada.
Há ainda o risco de uma sabotagem descarada e molecosa que pode ser perpetrada por aquele fortão rasgador de placas que, por enquanto, se encontra preso, mas hão de soltá-lo.
Imagina se ele repete aquela ação vexosa ocorrida durante a apuração dos votos no carnaval de São Paulo em 2012!
Recordo aos que não se lembram.
No Sambódromo do Anhembi, ocorria a leitura das cédulas de votação para cômputo geral e a definição da escola campeã do carnaval de São Paulo daquele ano.
De repente, Tiago Faria, membro da escola de samba Império da Casa verde, saltou o alambrado que separava os responsáveis pela leitura das notas e arrancou as cédulas das mãos do locutor, saindo em disparada.
Ato contínuo, Cauê Ferreira, da Gaviões da Fiel, também avançou sobre as cédulas e, para completar, no meio da confusão, Alexandre Salomão, diretor de carnaval da escola Camisa Verde e Branco, foi flagrado pelas câmeras rasgando envelopes que estavam na mesa dos jurados.
Uma molecagem brasileiríssima como um jabuti comendo jabuticaba.
Agora, imagine você, se os bolsominions resolvem emular essa estratégia bagunçante para colocar o pleito em suspeição.
Sumindo os papeizinhos, desaparecem as provas da votação e a confusão está armada.
O desfile de tanques que acontecerá amanhã, dia da votação em plenário que enterrará de vez a possibilidade de impressão dos votos, é mais uma ação para impressionar a turma do cercadinho.
Por que diabos a Marinha faria uma manobra militar, com blindados e tanques de guerra, em uma cidade que fica a mil metros do nível do mar?
Esse canto do Cisne Branco é ensurdecedor.
Tudo bem que a cena se repete desde 2008, mas em nenhum outro momento ela se pareceu uma ameaça, como agora.
Mesmo porque a encenação do treinamento de guerra ocorrerá na cidade de Formosa (GO), a 82 km de Brasília, nada tem a ver com esplanada.
A alegação do alto comando para a inusitada manobra é que os bravos fuzileiros irão ao Palácio do Planalto para entregar um convite ao presidente para que este prestigie o evento.
O diabo é que não vão de uber, de táxi ou de motorista particular, irão com um comboio de guerra!
Os tanques já estão estacionados em Brasília, no Clube dos Fuzileiros Navais, à beira do lago, no setor de clubes sul; não há nenhuma razão deles serem colocados na rua, aliás, na esplanada dos Ministérios, exatamente no dia dessa importante votação.
Dois dias a mais, três dias a menos não fariam a menor diferença.
O timing é que sugere uma provocação, como se fosse um aval para o rasgar de cédulas, “qual cisne branco que em noite de lua, vai deslizando num lago azul.”
Pelo fim das bravatas insolentes, pelos mais de 600 mil mortos e pela volta da normalidade cívica...
Oremos ao senhor.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.