Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro foi presenteado por um deputado federal de Goiás com um violão autografado por cantores sertanejos, como Gusttavo Lima, Leonardo e Amado Batista. Para a não surpresa de quase todos, ao receber o instrumento, ao invés de dedilha-lo (o que seria esperado de qualquer ser humano normal e decente), o candidato a führer brasileiro colocou o violão numa posição de fuzil e fez seu tradicional sinal de “fuzilar os inimigos”.
Não há como não fazer associações desse ato com situações que vivenciei em algumas igrejas onde pastores também incentivavam os fiéis a portarem a Bíblia como uma arma. E até mesmo a fazer o gesto de “atirar” com as Escrituras Sagradas em inimigos imaginários. Como crianças na fase oral, em que todas as coisas que pegam são levadas à boca, o bolsonarismo e seus asseclas estão frenéticas e, pelo jeito, eternamente em uma fase “armal”. Tudo em suas mãos viram armas, sejam violões ou bíblias.
Do outro lado de todo esse caos e violência que querem propor Bolsonaro, religiosos e músicos (?) que o apoiam, lembro-me das palavras do Profeta bíblico Isaías ao profetizar o que seria a vontade de Deus para os povos: “Ele julgará entre as nações e resolverá contendas de muitos povos. Eles farão de suas espadas arados, e de suas lanças foices. Uma nação não mais pegará em armas para atacar outra nação, elas jamais tornarão a preparar-se para a guerra.” (Isaías 2:4)
A proposta bíblica é exatamente oposta à barbárie que Bolsonaro inflama: nela, os instrumentos de guerra seriam transformados em instrumentos de vida, de cultivo da terra, de pão para todos. Para o profeta, feijão vale muito mais que qualquer fuzil. Já nas mãos sanguinárias do falso “Messias” e nas mãos sujas de sangue dos pastores que o apoiam, acontece totalmente o contrário: são os instrumentos de paz, como um violão e uma Bíblia que são transformados em objetos de ódio e morte.
E não é difícil perceber o motivo: o coração dessa gente é repleto de maldade, de raiva, de rancor. Suas ações são movidas com um único objetivo: a destruição do diferente, a morte dos que anunciam a paz, a aniquilação do bem e a preservação do mal, do morticínio, da tragédia. Alimentam-se do sangue, do dinheiro e da catástrofe dos inocentes. Não é só “bandido bom é bandido morto”, é “pobre bom é pobre morto”, “negro bom é negro morto”, “mulher boa é mulher morta”, de preferência com requintes de crueldade. Querem vencer pelo ódio!
Mas, como os profetas, eu insisto nos sonhos e nas visões. Acredito no amor como a grande revolução, no afeto como capaz de destruir a maldade, “acredito nas flores vencendo canhões”, nos cravos e nas margaridas e, por mais que os arautos da perversidade insistam na morte, eu pego minha Bíblia e meu violão para entoar “uma canção bonita, falando da vida em ré maior... de filosofia e mundo bem melhor...” gritando a poesia e batendo o pé no chão:
“Todos esses que aí estão Atravancando meu caminho, Eles passarão... Eu passarinho!”
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.