Não é novidade para ninguém que, mal se inicia uma discussão sobre o obscurantismo do bolsonarismo no tempo presente, alguém logo diga que “a culpa é dos neopentecostais!” Longe de defender o neopentecostalismo, o protestantismo ou seja lá o que for (há um ano venho escrevendo sobre esses grupos e tecendo duras críticas), eu penso que é necessário também, nessa discussão, falarmos do catolicismo, principalmente o catolicismo reacionário e perverso de grupos “anti-papais”. Sim, vivi para ver católicos questionando a autoridade papal, já que, para estes, o Papa Francisco “tem um pé no comunismo”.
Aliás, é interessante percebermos, por exemplo, que o movimento chamado de Renovação Carismática (e todos os seus desdobramentos) são uma reação ao crescimento pentecostal/neopentecostal e conseguiram a proeza de reunir o pior das 3 principais vertentes evangélicas: o fundamentalismo dos históricos, o negacionismo teológico pentecostal (o pentecostalismo clássico tem reagido a isso e buscado maior aparato teológico) e o projeto de poder político neopentecostal. Resultado: um catolicismo de resultados, sem nenhum compromisso com a verdade e com a realidade social brasileira.
A enxurrada de padres e líderes católicos que postam vídeos defendendo o indefensável (o desgoverno Bolsonaro), que atacam figuras católicas humanitárias e visivelmente cristãs como o próprio Papa Francisco, o Padre Júlio Lancellotti, e outros tantos que se levantam contra a barbárie e a desumanidade do atual mandatário da cadeira presidencial. O padre Lino Allegri recentemente foi agredido verbalmente em plena missa e depois ameaçado por um grupo de “católicos” (e aqui as aspas são necessárias) bolsonaristas. Chegou ao ponto de ter que pedir uma medida protetiva para não cair nas mãos dos insanos e violentos pregoeiros do caos.
Aliás, fica aqui a sugestão para aqueles que são católicos e bolsonaristas: a troca do crucifixo por uma imagem de um soldado romano. Fica mais condizente com a prática de quem apoia o torturador em detrimento do torturado, porque é isso que o cristo crucificado grita aos quatro cantos: que os perversos, quando detentores dos poderes religioso e político jamais aceitarão que o amor e o afeto sejam as expressões maiores da fé. Querem uma fé bélica, destruidora, capaz de defenderem que “bandido bom é bandido morto”, mesmo indo contra TUDO que Jesus ensina em sua vida e obra.
E não são poucos esses católicos. E não é pouco o número de eleitores de Bolsonaro nesse meio, levados pela enxurrada de mentiras em nome de uma fé que sucumbe aos mais perversos homens e é capaz de renunciar à sua histórica luta contra a injustiça, com nomes como Dom Paulo Evaristo Arns, Dom Helder Câmara e Dom Pedro Casaldáliga.
É preciso falar dos católicos! Muitos deles também têm as mãos sujas de sangue...