O sonho amalucado e desarrazoado de muitos brasileiros sem conexões com a realidade política e histórica do país, que os levou a apostar em Jair Bolsonaro nas eleições de 2018, parece ter chegado ao fim. Nas trincheiras do presidente restam apenas os lunáticos incorrigíveis e os bárbaros de mau-caráter assumidos (que não são poucos, algo em torno de um quarto do eleitorado).
As manifestações de ontem, por mais que tenham sido partidarizadas e estigmatizadas pela imprensa hegemônica, foram seguramente protagonizadas por importantes parcelas da sociedade civil sem relação direta com movimentos sociais instituídos, sindicatos e partidos de esquerda, ainda que esses representem a parte mais robusta dos atos.
O brasileiro médio vai às ruas e os que não vão já assumem posições declaradamente críticas ao governo.
Bolsonaro acabou. E, por mais que a frase pareça precipitada, é exatamente isso. Não será possível seguir em frente com 520 mil corpos na caçamba e com um carimbo na testa de ladrão de dinheiro de vacina.
Não que ele vá pegar seus panos de bunda e sumir agora, abandonado Michelle no Alvorada e deixando um bilhete choroso ao general Heleno. Não é isso. Jair Bolsonaro ainda nos dará muita dor de cabeça, nos trará muito sofrimento e nos custará muita energia. Mas seu fim está selado. Ele chegou a um ponto de não retorno.
O que nos causa angústia é que ainda não sabemos como ocorrerá o desfecho que entrará para a História, como serão as últimas horas do macabro, doentio e desajustado homem que chegou à cadeira mais alta da República.
Bolsonaro está isolado, aquartelado na quarta parte da população que ainda vê vultos comunistas e que sofre com o delírio febril dos perigosos movimentos guerrilheiros que querem derrubar o presidente. É uma seita barulhenta e agressiva.
Ele teria ainda um suposto apoio de Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, único homem no ordenamento jurídico brasileiro que pode instaurar um processo que o levaria à expulsão da Presidência, embora seja cada vez mais claro que o nome do que Lira dá a Bolsonaro não é apoio, mas sim achaque. Nessas muralhas que adiam a queda do genocida tropical ainda estariam Augusto Aras, o vergonhosamente subserviente PGR, e as corporações policiais aparelhadas pelo clã criminoso.
O “Fora Bolsonaro” chegou até o Tour de France neste fim de semana. Foram registrados atos pela derrubada do psicótico líder em vários países. Ele não recebe visita de qualquer chefe de Estado ou de governo, tampouco é convidado a visitar outras nações. Vive como um rato, entalado em sua toca, divorciado da comunidade internacional e pintado como um demente pelos povos estrangeiros.
Trocando em miúdos, a situação, como dito acima, é de não retorno. A duras penas, talvez, ele consiga arrastar-se com remotas chances até o pleito do próximo ano. Isso na melhor das hipóteses. Até seu discursinho cínico anticorrupção acabou após os escândalos envolvendo a aquisição de lotes de vacina. Já não há mais ao que se apegar, exceto à loucura.
É preciso paciência agora. O fim ocorrerá, não está longe, mas não sabemos qual é essa distância e qual será o trajeto. O jeito é seguir firme e sem perder de vista os passos seguintes, que são a prisão e a condenação dele, dos filhos e de seus colaboradores por crimes comuns e contra a humanidade.
Bolsonaro acabou.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.