O ser humano está convencido de sua superioridade dentro do planeta Terra e, infelizmente, não se vê como parte de algo maior. Esse sentimento, conduzido com muita arrogância, faz com que tratemos de forma nociva o meio ambiente e todos os seres que nele habitam. A humanidade está rodeada de uma fauna riquíssima, mas ela tem pouco conhecimento sobre seus animais. Os mais recordados são aqueles domesticados, como os cachorros e gatos, ou aqueles que se tornaram icônicos para algumas culturas específicas, como por exemplo os elefantes, as cobras, os pombos, etc. Ou seja, a relação desses animais com o homem está mais atrelada a uma cultura individual, respeitando e valorizando os seres que de alguma forma compõem o nosso próprio universo.
Dito isso, posso afirmar que somos muito ignorantes em relação ao reino animal. Recentemente, conversando com colegas da área da Educação, descobri que em muitas escolas, na disciplina de Biologia, não se fala sobre os seres abissais. Muitas crianças da rede pública de ensino brasileira não sabem que há uma profundidade nas águas dos oceanos, onde não chega luz do sol, e que ali há uma diversidade de animais incríveis com características extremamente únicas. Estamos destruindo um planeta riquíssimo, sem antes conhecê-lo de fato. O nosso sentimento humano de superioridade é tão grande que pressupomos que seres extraterrestres têm formatos humanoides. Na maioria das vezes, quando são retratados em filmes e séries, os chamados aliens possuem duas pernas, dois braços e uma cabeça, pois inconscientemente acreditamos que a vida inteligente tem atributos similares aos nossos.
Confesso que todas essas questões apresentadas aqui fazem parte do meu repertório particular de interesses, mas eu me vi por horas pensando sobre essas questões ao visitar a esplendorosa exposição de Angelo Venosa no MAC, o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (USP), que se estenderá até 1° de agosto. “A Clareira”, apresentação instalada no térreo do museu que destaca a obra de Angelo, foi inaugurada para servir como centro de inspiração e diversidade para todos os artistas, músicos, curadores e escritores que se propuseram a frequentar o espaço em busca de trocas culturais com os demais participantes. Ao servir como peça fundamental para os ciclos de renovação da floresta, que abrange ambas fauna e flora, a exposição também promove ações pontuais alternadas toda quinta-feira à noite.
Primeiramente, o que chama a atenção do espectador é que as esculturas são muito grandes, porém, ainda sim transmitem uma leveza. A impressão que temos ao olhar para as obras de Venosa é que elas vão sair flutuando. Há muita delicadeza envolvida no processo, e isso já proporciona um sentimento de alívio, pois vivemos um momento pesado numa pandemia que está nos sufocando e nos matando, então apreciar uma arte que transmita este grau de serenidade nos traz uma ótima sensação de bem-estar.
Em suas obras, o artista coloca uma lente de aumento em fragmentos de animais, nos quais é possível ver, por exemplo, um pedaço que parece ser de um escorpião, algo que normalmente é minúsculo, em uma escala aumentada. Há uma escultura enorme (imagino que tenha mais de dois metros de altura), que foi pintada de preto e se encontra pendurada no teto, que remete a um molusco gigante. Ou seja, ele dá grandeza a esses seres e mostra a riqueza de detalhes de suas formas ou de partes de seus corpos, fazendo o espectador sair de seu lugar de superioridade para entender que a beleza desses animais é tão grande, mas que, às vezes, não damos a ela a devida atenção.
Recomendo uma visita a essa exposição e acredito que qualquer pessoa que for visitá-la, sairá de lá reflexiva e tocada por essas maravilhosas obras de Angelo Venosa. Vivemos um momento no qual precisamos nos conscientizar de que a fauna e flora terrena precisam do respeito dos seres humanos e obras artísticas que nos levam a refletir sobre a magnitude da natureza são necessárias neste cenário.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.