Entre os ministros inqualificáveis do governo Bolsonaro, Osmar Terra ocupa um lugar especial. Golpista de primeira hora e ministro do Desenvolvimento Social de Michel Temer, aderiu prontamente ao bolsonarismo, já embarcou na campanha de Jair Bolsonaro em 2018 e foi ministro da Cidadania entre janeiro de 2019 e fevereiro de 2020.
Seu comportamento na pandemia ecoou e antecipou o do chefe: negou, minimizou, fez previsões as mais estapafúrdias possíveis, tornou-se defensor ferrenho da cloroquina, da ivermectina, da amaralina, da gasolina e de toda sorte de curandeirismo que emanava do Planalto. O garoto-propaganda do negacionismo assassino de Jair Bolsonaro, inclusive, é médico e chegou a ser cogitado para assumir o Ministério da Saúde no troca-troca ridículo que faz o Brasil ter quatro ministros da Saúde em uma crise sanitária inédita e letal.
O resultado do negacionismo programático da gestão Bolsonaro, finalmente objeto de uma CPI que começou dia 27 de abril, está nos números ainda crescentes de mortos. Não se pode esquecer também da manipulação de dados operada por órgãos ditos competentes (e aparentemente técnicos), responsáveis por nortear um conjunto de políticas públicas das três instâncias de poder (federal, estadual e municipal) fizeram desde a hora 1 da pandemia e, agora, tem consequências como a falta de vacinas e a implosão do Sistema Nacional de Imunização.
Um vírus, aprende-se em aula de biologia do Ensino Médio, é uma capinha de proteínas encapsulando RNA transmissor, o que transforma esse ser vivo detectável apenas por microscópios eletrônicos em um organismo capaz de mutações muito rápidas. Jair Bolsonaro não apenas faltou a essa aula como se recusou a ouvir qualquer um que ousasse adverti-lo de que o coronavírus e a doença por ele provocada iria se transformar num morticínio sem paralelo na história dos últimos dois séculos.
(É assim que um fascista reage diante da morte; seja causada por agentes externos, por omissão ou projeto político pessoal: viva la muerte!)
O que a CPI vai conseguir provar ainda não se sabe, mas a catástrofe causada por Bolsonaro e sua inesgotável lista de ministros imbecis e/ou simplesmente bajuladores está evidente nas ruas e nos jornais todos os dias.
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A palavra utopia, coitada, vem sendo utilizada de há muito como sinônimo de coisa impossível, irrealizável, fantasiosa. Se essa acepção está de fato, na origem da palavra, uma vez que é o neologismo criado por Thomas Morus no ensaio filosófico de mesmo nome, depois da era da distorção intencional de notícias que passou a ser conhecida como “fake news”, a esse sentido foi aderida uma conotação política nova. A esquerda & o campo progressista emprestaram o conceito de Morus para formular a ideia, lá no século 19, de que a ação política pode transformar a sociedade.
A direita neoconservadora, os liberais de ocasião e os reacionários de sempre se apropriaram do termo para classificar qualquer ideia, conceito, proposta, fala, frase que, para eles, esteja no terreno do comunismo, do socialismo ou da defesa dos direitos humanos básicos.
Essa fantasmagoria ideológica, no poder a partir de 2018, combateu, em vez do vírus, aqueles que considera herdeiros ou contaminados por utopistas de qualquer estirpe.
Lula & Dilma, claro, como os presidentes que, de 2003 até o golpe de 2016, conseguiram diminuir desigualdades, ampliar oportunidades de trabalho, educação e saúde, foram as primeiras vítimas, essenciais para que eles tomassem o poder. Logo que Bolsonaro chegou em Brasília, no entanto, todo mundo virou inimigo.
O rol cresce a cada dia, mas o verdadeiro adversário dessa gente é o povo brasileiro, que segue morrendo para que Jair consiga provar seu ponto.
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Esse texto é dedicado à minha mãe, Zilah Wendel Abramo (dez, 1926 - ago, 2018), que se foi, ainda bem, antes que essa catástrofe de sobrenome Bolsonaro chegasse ao poder.
**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.