Há exatos três anos, estava em São Bernardo do Campo e não é exagero dizer que o ar que respirávamos era totalmente diferente. Aqueles últimos dias no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC tinham um cheiro de história sendo escrita, de injustiça, de muita tristeza, mas curiosamente, também de força e de consagração.
Um dia antes, já com a prisão decretada, havia estado com um Lula altivo, seguro de seu papel na História e consciente de que se entregar à Polícia Federal era preciso para desmontar aquela farsa. Não pediu asilo político numa embaixada, como haviam aconselhado alguns, e nem optado por nenhuma resistência, como gritavam outros que deitavam na rua ao lado do sindicato.
Lula se entregou e, em seu discurso, explicou que iria cumprir a ordem judicial, ainda que injusta, o que, aliás, não era uma novidade em sua vida. Ele já havia sido preso na Ditadura Militar por lutar por melhores salários para a classe trabalhadora e pela democracia. Naquele dia, o Luiz Inácio até pode ter chorado – como choraram os reginaldos, as marias, as clarisses e os joões – mas o Lula ficou mais forte.
“Livre” virou seu sobrenome enquanto estava preso. Além de referência mundial no combate à fome, se tornou exemplo máximo de vítima de lawfare, conceito para definir quando parte da Justiça se utiliza de meios ilegais para fins políticos.
Já estava solto para ver a imagem de quem o prendeu começar a ser arranhada. O ex-juiz logo virou ex-ministro e depois ex-herói, mas o trabalho sujo de manipular as últimas eleições presidenciais já havia sido feito. Quem está sofrendo é o Brasil, com uma Presidência irresponsável, que não altera sua política frente à pandemia, enquanto batemos recordes diárias de mortes.
A anulação das condenações e o histórico discurso no mesmo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC mudaram o panorama político e constrangeram o Planalto. Agora, há alguém com experiência, coragem e voz ouvida pelo mundo inteiro para denunciar a incompetência de Bolsonaro e, diante da inércia do governo, clamar publicamente por soluções.
Mesmo sem se dizer pré-candidato, foi incluído em pesquisas eleitorais e aparece como a força capaz de livrar o Brasil do negacionismo que também é exercido pela cruel política econômica e não pela chamada “ala ideológica” deste governo de fanáticos.
Olhando uma foto do palanque das Diretas Já, além de Lula, vemos o Mário Covas, Fernando Henrique, o grande Leonel Brizola, o doutor Ulysses Guimarães, entre outros. Os que advogam os legados destes políticos não têm o direito de fechar os olhos para a força do ex-presidente em derrotar Bolsonaro, amigo da Ditadura Militar e inimigo da vida.
Lula foi vítima de um conluio, de uma nítida perseguição, e merece respeito e um pedido formal de desculpas. Perdeu familiares dos mais diversos parentescos durante esse processo que passou de cabeça erguida e com muita dignidade. No dia da prisão, a comunicação do voo de São Paulo a Curitiba, uma voz foi ouvida pedindo para que a janela fosse aberta e o ex-presidente fosse jogado das alturas.
Mesmo com tudo isso, não há espaço para mágoa. Em três anos, a terra, que alguns bolsonaristas dizem ser plana, girou várias e várias vezes. A conjuntura mudou, mas Lula nem tombou e nem mudou o que ele é, porque tem raízes e é de verdade. É uma liderança democrática, humanista e que é radical apenas contra a fome, o preconceito e a falta de oportunidades.
Três anos depois, Lula está onde sempre esteve: Na luta por um Brasil melhor!
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.