O ecumenismo do mal – Por pastor Zé Barbosa Jr

Para o mal, são capazes de aglomerarem-se, contra tudo e contra todos. Negam a ciência. Negam as verdades científicas. Negam o bom senso. Pois se há só “um verdadeiro”, tudo o mais é falso.

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Se há um milagre que o bolsonarismo conseguiu realizar é a junção entre dois setores que historicamente se odeiam: o fundamentalismo evangélico e o fundamentalismo católico. Sim, porque na verdade ambos nunca consideraram um ao outro como tendo legitimidade na fé cristã. O fundamentalista evangélico não crê que o católico será salvo, assim como o fundamentalista católico não acredita que há salvação fora da santa madre e que evangélicos são “filhos bastardos de Deus”.

Então, como explicar a unidade entre eles nesse momento histórico do Brasil? A resposta é simples. Há algo que, nos fundamentalismos, é capaz de mover céus e terra e juntar no mesmo “guarda-chuva” as mais diversas e incoerentes frentes: o ódio! O fundamentalista é movido por ódio, e é somente ele a sua grande mola propulsora. Aliás, mais curioso ainda é o que chamo de "ecumenismo do mal" e que tem também como um de seus grandes inimigos o movimento ecumênico. Eles odeiam a unidade da diversidade, a não ser quando para praticar o mal...

O fundamentalista odeia. Desse jeito, com ponto final após o verbo. É intransitivo, ainda que complementado. É um fim em si mesmo. Se há ódio, e se esse sentimento motriz tiver como nome “liberdade”, “direitos humanos”, “ciência”, ou quaisquer outras causas que façam bem à humanidade a partir de sua multiplicidade, o fundamentalismo será contra. Porque se faz bem ao ser humano há de ser “inimigo de deus”. Fundamentalistas não sabem viver sem um inimigo para vencer. E são capazes de esquecerem “pequenas divergências” para lutar contra todo sopro de vida que se levante.

O pior de tudo é que os fundamentalismos são sagazes. Sabem como poucos sequestrar narrativas e torná-las propriedade de seu grupo absoluto. Aliás, “absoluto” é o que melhor define o universo fundamentalista e é nesse absolutismo que os ódios se encontram. São únicos, os únicos verdadeiros, os únicos detentores da verdade, os seguidores de um deus único, absoluto, e de quem são os “únicos” defensores e fiéis. Tudo é único, tudo é absoluto, tudo é “mono”. Não há diversidade. A diversidade assusta e ofende o fundamentalista.

É por isso que, ainda que internamente sejam devoradores uns dos outros, católicos e evangélicos que comungam do ódio, do mal, do sangue do “diferente”, são capazes de unirem-se “uníssonos”. Um canto gregoriano do mal, sem variantes, sem dissonantes. Respiram e alimentam-se da destruição do diverso, da ideia contrária, do questionamento e, claro, do prazer. Adoram um deus punitivo, sangrento, “único” e que só subsiste sob uma única forma: a destruição do outro. O deus fundamentalista tem um inferno para quem pensa diferente. Não é de estranhar que seus seguidores adorem colocar pessoas lá...

Para o mal, são capazes de aglomerarem-se, contra tudo e contra todos. Negam a ciência. Negam as verdades científicas. Negam o bom senso. Pois se há só “um verdadeiro”, tudo o mais é falso. E não há bom senso ou coerência na divindade fundamentalista: cantam que ele é o “Rei da paz”, mas vivem da guerra; que “Ele é amor”, mas se alimentam do ódio”; que são “pró-vida”, mas apoiam e sustentam um governo genocida.

O ecumenismo do mal está posto. Sua principal bandeira é o ódio. Sua maior arma é a intolerância. Seu grande legado é a destruição. Estão sempre em suas “cruzadas”, com armas e escudos nas mãos. Não, não são cristãos “capazes de morrer pela fé”. Essa gente mata em nome de deus. O deus deles mata. O evangelho deles é má notícia. Eles odeiam o próximo. Eles odeiam.

Só esquecem de uma coisa... No livro que dizem defender, mas desconhecem profundamente, não é a morte que dá a palavra final. É a vida, é a esperança, é o amor.

E o amor vencerá!

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.