A metáfora mineira que compara a volatilidade das nuvens à política é muito boa para a atual conjuntura. Tudo mudou de repente.
Os ânimos mudaram, a distopia se dissipou, como certas nuvens se dissipam com um vento mais forte. A esperança volta para o horizonte do Brasil.
O futuro é uma possibilidade de novo. O sol volta a brilhar para os brasileiros. Muita luta pela frente!
Vamos precisar compreender rapidamente a nova conjuntura política, o papel que cabe à esquerda, à centro-esquerda e aos democratas no país, neste momento tão difícil.
A eleição de 2022 foi antecipada. Vamos ter uma disputa acirrada de projetos para o país. O governo Bolsonaro já é quase um espectro.
Grosso modo, são três os projetos mais importantes para o Brasil e que estarão representados nessa disputa.
Lula é o mais popular e o mais preparado para liderar e ser o representante do projeto de esquerda e centro-esquerda, além de amplos setores democráticos.
Lula representa o projeto de soberania do país, com justiça social, preocupação com a qualidade de vida dos brasileiros, com democracia, educação de qualidade para todos, incluindo acesso à universidade e desenvolvimento cultural para todo o povo brasileiro. Não podemos esquecer o que seu governo representou para o país e para a vida dos brasileiros.
Bolsonaro representa o projeto da extrema direita. Autoritarismo e, se possível, ditadura, com a ocupação militar do governo, censura e cerceamento da liberdade de expressão, armamento da sociedade, violência como linguagem política. E, milícias toleradas, ocupando todo o território, defendendo o assassinato de opositores em grande quantidade e a tortura como prática.
Pretendem destruir o Estado nacional e transformar o país no reino e pasto do capital, sem regulação econômica, nem direitos sociais, com censura e obscurantismo cultural, racismo, misoginia e submissão das mulheres aos machos em casa e nos ambientes públicos. Representam, ainda, a discriminação e o cancelamento de toda comunidade LGBT. Manicômio e choque elétrico para os portadores de distúrbios mentais. Destruição dos povos indígenas e disponibilização de suas terras para o agronegócio, ou seja, soja e bois, a mineração e a exploração desenfreada de madeira.
E tem um terceiro campo político que participou ativamente do golpe na nossa democracia e do impeachment da presidenta Dilma, legalmente eleita, sem nenhuma acusação consistente.
São mais ligados à agenda neoliberal. São dissimulados que não defendem, mas fazem vista grossa ao autoritarismo do atual governo. Até pouco tempo eram representados majoritariamente pelo PSDB.
Eles defendem o enfraquecimento do Estado, a desregulamentação da economia e da vida social, a destruição do meio ambiente. A bem da verdade, é preciso que se diga, com mais moderação do que a barbárie do projeto da extrema direita para extrair madeira, minério, criar bois, plantar soja. São insensíveis à pobreza e ao sofrimento do povo brasileiro. Encaram a miséria e a fome como dados naturais.
Esse projeto é liderado pelo capital financeiro, mas agrega o agronegócio e parte da indústria, principalmente as maiores empresas, em geral estrangeiras.
O setor de serviço, que depende diretamente do consumo e do poder de compra dos brasileiros e brasileiras, está dividido.
Esse setor político que representado politicamente pelos tucanos também é adepto de abandonar a ideia de soberania. Nas palavras de um dos seus líderes, o Brasil poderia adotar uma subalternidade privilegiada, o que significa vassalagem e atrelamento incondicional do País aos EUA.
Com a anulação das condenações de Lula, a esquerda e o centro-esquerda crescem politicamente da noite para o dia ao mesmo tempo em que o grupo neoliberal, que se crê contemporâneo e civilizado, perde muito discurso, porque não consegue polarizar com Bolsonaro. No máximo um leve mal-estar...
Eles provocaram o golpe na nossa frágil democracia. Não podemos esquecer que foi Aécio Neves, então presidente do PSDB, quem liderou o golpe. No essencial estão alinhados e dão sustentação a Bolsonaro e à política entreguista de Guedes.
A esquerda e o centro-esquerda, junto com amplos setores democráticos, passam a ter a responsabilidade de liderar e convocar a cidadania à luta para restabelecer a normalidade democrática, aprofundar e qualificar as normas e padrões da nossa institucionalidade a serviço da vida dos brasileiros e brasileiras.
Como tarefa urgente, urgentíssima, teremos que enfrentar e nos responsabilizar pelo combate à pandemia e pela interrupção do genocídio da necropolítica do atual governo.
Será necessário retomar e ampliar nossa soberania e nossa inclusão positiva no concerto das nações. O Brasil, recuperando sua grandeza e representando paz, convivência e cooperação entre os povos, defesa da diversidade e desenvolvimento humano em todas as suas dimensões.
Restabelecer e aprofundar a institucionalização dos direitos sociais, aprofundar os compromissos e as normas de sustentabilidade e de proteção do meio ambiente, retomar o caminho de fortalecimento e qualificação da educação e retomar as políticas públicas em prol do desenvolvimento cultural e das artes com acesso de todos.
Nosso futuro governo não pode ser igual aos nossos governos anteriores. Seria desperdiçar a experiência e a consciência dos erros e acertos. E a realidade vem se modificando bastante em todos os campos da vida social.
Não vai ser fácil, mas com certeza, recuperamos o direito do Brasil ter um futuro.
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.