É tão bonito ver um homem simples, que fala a língua do povo, chefiando o Brasil. Suas falas toscas, cheias de anacolutos ininteligíveis, e a gargalhada gostosa ao final. Espirituoso, ele sempre faz uma piada com os mortos da devastadora epidemia. É um cristal de simplicidade no coração do Planalto.
Nem parece que as acusações de rachadinha e de empregados fantasmas vêm de quase 30 anos. Que ele foi o deputado que mais consumiu gasolina na história, abastecendo 2.831 litros de combustível só em novembro de 2006, de acordo com a Agência Sportlight. O mito devia estar participando de uma expedição ao Ártico em busca de uma jazida de nióbio. De carro.
Mas é tocante mesmo a simplicidade do homem que, com casa própria em Brasília, embolsou por décadas R$ 4.253 mensais de auxílio moradia, admitindo em entrevista que usava o dinheiro irregular para pagar prostitutas ("comer gente").
E o filhão tá de casa nova. É a glória e o júbilo dos que trabalham. Recompensa pelos feitos profissionais inigualáveis e pelas conquistas realizadas em nome do Brasil e do povo brasileiro. Claro que, dos R$ 6 milhões pagos na luxuosíssima mansão, uma parcela veio da mais bem sucedida lojinha de chocolates do mundo.
De 1991 a 2019, dados mostram 39 funcionários nomeados pelo clã com indícios de serem fantasmas, o que custou R$ 16,7 milhões aos cofres públicos no período, segundo reportagem da Revista Época. Eu sei que isso é claramente uma ação política da família para combater o desemprego, gerando trabalho e renda.
E a rapaziada que lucrou R$ 26 milhões em poucas horas com a informação privilegiada sobre a saída do presidente da Petrobras, hein? Os caras são traders, meus nobres. Gente bem informada, que têm ouvidos dentro do gabinete presidencial, mas sem qualquer vínculo com os ocupantes.
Sem falar que nossos bravos e intrépidos militares jamais deixariam a pátria desamparada, lançada à própria sorte nas mãos de uma quadrilha de psicopatas que infiltrou gente em todas as esferas da República.
Eles estão sempre alertas.
Selva!
Por ora, não há sinais de qualquer irregularidade no horizonte.
Silêncio ensurdecedor nos quartéis. Só se ouvem o estalar do carvão nas churrasqueiras, queimando a picanha, o estampido da Heineken gelada trincando e o glóc-glóc do lambuzante leite condensado.
Os decrépitos marechais e comodoros banqueteiros são o orgulho da pátria, com seus jipes sucateados e medalhinhas conquistadas nas gincanas da juventude. Sincronizados como relógios suíços, intimidam o inimigo com seus devastadores obuses de chantilly, paçoca e lombo gordo de bacalhau.
São tempos de paz, meus caros. Tudo corre dentro da mais absoluta normalidade. O Brasil nos trilhos é também o Brasil da moralidade, do respeito ao erário e do equilíbrio de um estadista único.
O gigante está de volta à decência simplista de homens austeros e de disciplina castrense.
Que glória!
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.