Por Vinicius Sartorato*
Uma das figuras mais expressivas da política espanhola nos últimos anos, Pablo Iglesias, deixou o Senado espanhol hoje (23) para concorrer à eleição da capital do país ibérico. Além de deputado eleito do Senado espanhol - o país é unicameral, o secretário-geral do Podemos é o 2º vice-presidente do governo espanhol e também ocupa o cargo do ministro dos direitos sociais. Iglesias é um dos personagens principais da atual composição governamental liderada pelo Partido Socialista (PSOE).
A cidade de Madri, atualmente governada pela polêmica jornalista de direita, Isabel Ayuso, do Partido Popular (PP), viu-se obrigada a convocar eleições antecipadas (para 4 de maio) e dissolver o parlamento da capital espanhola para evitar seu impeachment, após romper com deputados do partido liberal Ciudadanos, que até então apoiavam seu governo, e ficar sem maioria parlamentar para governar.
A disputa encabeçada por Iglesias e Ayuso representam um momento de polarização política no país e trazem de volta fantasmas que remontam as narrativas da Guerra Civil (1936-39), entre antifascistas e anticomunistas.
Iglesias, professor da Ciências Políticas da Universidade Complutense de Madri, representa parte da renovação à esquerda que fundou o Podemos em 2014, a partir de mobilizações anticapitalistas e por direitos sociais, que levaram a recém-criada agremiação a tornar-se a primeira do país nas eleições europeias daquele ano.
Isabel Ayuso, por sua vez, também representa a nova geração do Partido Popular, que teve sua imagem extremamente afetada nos últimos ano com o fim do governo de Mariano Rajoy, ex-presidente de governo espanhol, que teve seu governo interrompido por casos de corrupção.
A jornalista, prefeita de Madri, também representa a face mais dura de seu partido que se aproxima da extrema-direita (Vox), entrando em polêmicas com a comunidade LGBT e que, já durante a pandemia, sofreu diversas críticas sobre sua gestão. Desde a rescisão e estabelecimento de novos contratos para alimentação escolar com franquias de empresas de comidas fast food – ação criticada pelos parlamentares e revogada posteriormente, até a demissão de autoridades de saúde e medicina do seu governo.
Agora, com eleições marcadas para 4 de maio, os protagonistas dessa disputa se alfinetam diariamente. A prefeita disse após a declaração da candidatura de Iglesias (El País, 15/3/2021), que a “Espanha me deve uma. Tiramos Pablo Iglesias da Moncloa”, em referência a sede do governo nacional. A provocação logo foi respondida por outros personagens, como a ministra da Igualdade e namorada de Iglesias, Irene Monteiro (Podemos), que disse: “Madri não é uma comunidade segura para as mulheres.” (OkDiario, 23/03/2021). Por outro lado, Iglesias chegou a insinuar em um canal de TV que o governo madrilenho possui “casos de corrupção” (La Vanguardia, 23/3/2021).
Por fim, ficam algumas questões para o futuro próximo: Qual será o futuro do Podemos e Iglesias (seu principal líder) depois dessa eleição? Como ficará a relação do PSOE e do Podemos em Madri e como será o reflexo disso no governo central de Pedro Sanchéz (PSOE)? Além do cenário madrilenho, restam questões advindas de outras regiões importantes como Murcia (no sul do país), com os liberais do Ciudadanos e também com os independentistas da Catalunha. A princípio, no governo central, a ministra da Economia, Nadia Calviño, e a ministra do Trabalho, Yolanda Díaz (Partido Comunista Espanhol) são cotadas para substituir Iglesias (Ok Diario, 23/3/2021 e El Periodico, 16/3/2021).
*Vinicius Sartorato é jornalista e sociólogo, mestre em Políticas de Trabalho e Globalização e especialista em política internacional, comunicação e temas do mundo do trabalho.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.