Para Sartre, a frase de Dostoiévski, “Se Deus não existisse, tudo seria permitido", é o “ponto de partida do existencialismo". De fato, "tudo é permitido se Deus não existe, e, por conseguinte, o homem está desamparado porque não encontra nele próprio, nem fora dele, nada a que se agarrar", escreve o escritor e filósofo francês.
A imprensa vem noticiando por meio de seus comentaristas que Bolsonaro mudou de postura após o ministro do STF, Fachin, ter anulado as condenações referentes ao ex-presidente Lula, dando a possibilidade dele vir a ser candidato, caso queira, em 2022.
De fato, Bolsonaro passou a falar sobre vacina, diminuiu as besteiras que tem o costume de proferir, colocou um globo terrestre na sua live de quinta-feira e substituiu, mais uma vez, o ministro da Saúde, tudo após o que ficou conhecido como “fator Lula".
A imprensa desesperada para conter os absurdos de Bolsonaro, não conseguiu fabricar uma liderança liberal capaz de fazer frente ao presidente conservador. Ela não tem em quem se agarrar. “O homem, sem apoio e sem ajuda, está condenado a inventar o homem a cada instante”, diz Sartre. Sem Lula, os liberais, o mercado financeiro e a imprensa, tentaram inventar um homem para encarar Bolsonaro. Tentaram Moro, Doria e vêm soprando Luciano Huck com frequência. Mas, de acordo com as pesquisas, todas as tentativas foram inúteis. O único que desbanca Bolsonaro continua sendo Luís Inácio Lula da Silva.
Sendo assim, ressuscitou o deus que havia matado, pois percebeu que sem a figura "divina" havia restado apenas o diabo. A tentativa nietzchiana das elites de matar deus frustrou-se porque, em seguida, não conseguiu impor os preceitos existencialistas. O diabo não deixou.
As corporações midiáticas, porta-vozes do mercado financeiro, estão adorando as atitudes de Lula na busca por vacina e nas suas palavras anti-Bolsonaro. Vende a ideia, desde a semana passada, de que Bolsonaro está com medo.
Mas depois de Nietzsche e de Sartre não terem dado certo, resta a essas corporações adotar Marx. Sim! Repetir-se-á a polaridade política nas eleições de 2022. Fatos e personagens de grande importância na história ocorrem duas vezes, “a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”.
Deste modo, Lula e Bolsonaro se repetirão em um cenário muito diferente, principalmente se Lula for de fato candidato. A ideia é repetir a polarização como farsa, evidenciando a tragédia que se sucedeu decorrente dessa lógica que vigorou em 2018.
No meio dessa farsa, o mercado irá investir muito dinheiro para construir um homem de centro. Mas, na minha opinião, irá se frustrar mais uma vez. Acho muito difícil que algum nome do centrão seja capaz de vencer Lula. Pode até vencer Bolsonaro, já que muitos da esquerda votariam em qualquer um, menos em Bolsonaro (algo próximo do que aconteceu na eleição para prefeito do Rio de Janeiro em 2020).
Se não houver uma eventual prisão de Lula, tirando o ex-presidente da jogada, será muito difícil vencer o petista nas eleições de 2020. Contudo, há o problema entre Ciro e Lula. Essa divisão na esquerda é muito séria. Precisamos discutir melhor esta questão, se pretendemos vencer o obscurantismo…
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.