Antes de começar a dizer o óbvio, quero chamar a atenção para um artigo publicado na edição dominical impressa de hoje (14) da Folha de S. Paulo, no Folhajus, a seção jurídica do diário conservador paulista, assinado pelo jornalista e advogado Flávio Ferreira.
Não há novidade alguma no referido artigo, ele apenas “assume” (sem dizer isso), com a maior desfaçatez, que as acusações contra Lula foram uma verdadeira peça de ficção, o que faz presumir que tudo ocorreu com o propósito de destroçar a imagem do líder de esquerda, que deixou o Planalto com 87% de aprovação popular. Só que a Folha, sabendo disso, seguiu trucidando o ex-presidente pelos últimos seis anos.
No texto, onde as informações são endossadas pela palavra de inúmeros juristas renomados ouvidos pelo autor, fica evidente que as acusações contra Lula, nos processos encabeçados pelo ex-juiz Sergio Moro, nunca mantiveram conexão com os crimes apurados no escândalo chamado popularmente de Petrolão. Claro que, para dar uma pitada de isenção, o jornalista-advogado também ouve alguns juristas reconhecidamente críticos de Lula, que abusam do “se” para estabelecer ilações em relação ao acusado, embora nenhum deles afirme expressamente a culpa do estadista.
Fora do juridiquês habitual, no populacho, é o seguinte: houve uma forçação de barra para ligar o nome do ex-presidente a alguns casos criminosos de corrupção na Petrobras, e pior: ainda que as acusações sem prova fossem verdadeiras, não seriam crimes, mas talvez improbidade. Ou seja, mesmo se fossem apresentadas provas, Lula não teria infringido a lei penal, mas sim teria cometido uma espécie de infração em relação à administração pública.
Segundo um dos ouvidos, que é diretor da Faculdade de Direito da USP, o fato de nunca ter ficado estabelecido um “toma lá, dá cá” entre Lula e agentes corruptores é o suficiente para que jamais o ex-presidente fosse acusado de algo. A história do tal sítio é tão tosca, que na melhor das hipóteses (para os defensores da culpa de Lula), se a reforma tivesse sido um “presente”, nunca poderia ser considerada crime, porque a lei não prevê isso, e se a acusação fosse com base na Lei de Improbidade, a teoria teria caído por terra, porque se realmente o “presente” fosse comprovado, teria sido dado quando Lula não ocupava mais um cargo público.
O caso triplex é ainda mais escabroso. Lula visitou o imóvel com intenção de comprá-lo, em 2014, e desistiu por não ter gostado. Acabou fechando negócio ao comprar uma cota de um apartamento comum, no mesmo edifício. Tudo dentro da legalidade, declarado no Imposto de Renda e com contrato assinado. No ano seguinte o ex-presidente e a esposa desistiram da cota, desfizeram o negócio e receberam o dinheiro de volta. O triplex permaneceu no nome da construtora, jamais foi vendido, está desocupado, e permaneceu nessa condição até depois da condenação de Lula “por ser seu dono” (o que não é verdade, e se fosse, não seria crime). Uma aberração lógica.
Trocando em miúdos, as acusações são distorções bizarras da lei penal e da Lei de Improbidade, um circo montado para que a imprensa hegemônica e os setores políticos inimigos do ex-presidente, por sinal muito poderosos e com relações umbilicais com a elite econômica, devastassem sua imagem e o colocassem como um demônio perante a “opinião pública”, seja lá o que isso signifique no Brasil, já que a maior parte das pessoas fica hipnotizada e histérica com qualquer informação cretina e inverossímil que surja, de qualquer fonte.
Eu que saber, agora, se será possível reabilitar a imagem de Lula, fazendo justiça, e se haverá tempo de fazê-lo até a próxima eleição, já que esses lobotomizados travestidos de classe média continuam gritando como cabritas quando têm o mamilo torcido na ordenha.
Daqui pra frente, será necessário um trabalho seríssimo e hercúleo de reabilitação de Lula e de reestabelecimento da verdade.
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.