Durante a fala espetacular de Lula, livre, leve e lépido, no Sindicato dos Metalúrgicos, uma observação parece ter passado batida por nossos sagazes observadores.
Lula perguntou por onde andava o nosso profilático Zé Gotinha.
Eu também quero saber... Cadê Zégo?
A última vez que me lembro ter visto Zé Gotinha numa cerimônia pública foi em 22 de janeiro, quando um avião pousou trazendo da Índia umas doses da vacina de Oxford.
E, sejamos justos, nem era um Zé Gotinha raiz.
Magro e triste, com uma farda folgada e desleixada, parecendo um gasparzinho do terceiro mundo, esse Zé Gotinha de araque sequer trazia na fantasia um logo do SUS.
Totalmente pirata.
E, como ficou registrado por uma câmera da GloboNews, logo após a encenação midiática, o staff do Ministério da Saúde desmontou o dispositivo cerimonioso e simplesmente abandonou o nosso heroizinho.
É que dentro da fantasia desse Zé Gotinha Carioca (um Zé Carioca despapagaizado?) tinha um motorista fazendo um bico para salvar uns trocados.
Pois o staff bolsonarista deu, de uma só vez, uma bica no motorista e no fantasminha, mostrando seu desprezo pela saúde e pelo povo.
Lembro-me das crianças tristes nas redes sociais ao verem as imagens do amiguinho da saúde desprezado e abandonado num aeroporto.
E por que fazem isso com Zégo?
Ora, Zé Gotinha, criação genial do artista plástico Darlan Rosa, é um símbolo, uma imagem de sucesso do SUS, um case de SUScesso.
Como lembrou Lula, ele representa, entre outras coisas, a campanha espetacular de vacinação contra a pandemia provocada pelo vírus H1N1, em 2010, quando o SUS vacinou, em apenas três meses, mais de oitenta milhões de brasileiros e brasileiras.
Necrófilos odeiam o Zégo porque ele representa a vida, a saúde e a alegria.
Zé Gotinha é também um marco de um período em que o petê deixou sua marca na saúde pública.
Talvez, por isso mesmo, o arquiteto de ruínas que nos (des)governa tenha jogado o nosso camaradinha numa sala escura, fria, empoeirada e vazia.
Lula teve que lembrar aos negacionistas que o Zé Gotinha é suprapartidário.
E o nosso superherozinho, gigante, como bem lembrou o artista plástico Tiago Botelho, já figurou em campanhas até no continente africano.
Além de suprapartidário, ele é também supranacional.
Era o Zé Gotinha quem pegava as crianças pelo braço para tomarem a vacina, minha filha tem foto com ele no Posto de Saúde da Vila Planalto.
Lembro do sorridente e afável Zé Gotinha durante a campanha da Vacina Sabin, na campanha de erradicação da pólio...
O sacana merecia um desenho animado, onde ensinaria higiene preventiva pras crianças.
Lula, sempre Lula, foi quem cobrou a presença de Zégo no cenário nacional novamente!
Todos nós sabemos que a fala de Lula repercutiu mundo afora, mexeu com a bolsa, o dólar, provocou editoriais na midiazona, estimulou enquetes nas redes sociais e causou pânico no inquilino do Palácio do Crepúsculo.
No dia seguinte, após levar uma surra moral do ex-metalúrgico, o Zero Zero deu um cavalo de pau na liturgia vagabunda e apareceu com seus auxiliares devidamente mascarados, respeitando o distanciamento entre as pessoas, mentindo que sempre foi a favor da vacinação em massa e colocando o ilógico da logística para fazer um inusitado elogio à imprensa.
A mim não enganam.
Só acredito num arrependimento bolsonarista se Carluxo aparecer, na varanda da mansão do bróder, fantasiado de Zé Gotinha e com uma longa cauda de pavão em leque.
Palavra da salvação.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.