Bolsonaro foi ao Ceará fazer comício com aglomeração e disse que os governadores que fecharem seus estados devem pagar o auxílio emergencial. Ou seja, jogou nas costas deles toda a responsabilidade para lidar com a tragédia do coronavírus que chegou ao ápice depois de o governo federal não ter feito nada para impedir que isso acontecesse.
Boa parte dos estados está com mais de 80% das UTIs ocupadas e o razoável a fazer neste momento era um lockout nacional. O que faz o presidente? Insufla comerciantes e empresários irresponsáveis que são contra o fechamento de comércios para atacar prefeitos e governadores. Esses ficam entre a cruz e a caldeirinha e acabam adotando medidas restritivas que não dão conta da dimensão da pandemia. E ela só continua a aumentar. Já faz alguns meses que estamos nesta toada.
E por que os governadores e prefeitos não enfrentam Bolsonaro? Porque a imensa maioria tem base de apoio bolsonarista e teme ser boicotado pelo governo federal caso venha a se rebelar.
Ou seja, estão sendo chantageados pelo capitão de araque. E estão correndo o risco de ver suas cidades e estados entrar em calamidade pública porque não sabem como agir politicamente.
Neste sentido a proposta de CPI de Tasso Jereissati pode ser algo mais importante do que o noticiário tem registrado. Ela pode ser uma válvula de escape para que esses prefeitos e governadores mais acovardados se mexam e passem a fazer algo utilizando como álibi que não querem ser investigados.
A CPI de Jereissati pode ser a resposta política do sistema pra lidar com a situação de cabresto que Bolsonaro impôs a muitos chefes do executivo.
O que surpreende é que mesmo humilhados e desautorizados e ainda correndo o risco de verem suas cidades e estados explodirem numa tragédia sanitária, esses chefes de executivo se humilhem e tirem o chapéu para o tirano. E precisem de uma CPI pra talvez terem uma válvula de escape se tudo der errado.
O fato é que Bolsonaro também é forte porque faz política num deserto de covardes. Em especial os que têm cargos públicos e comandam estados e prefeituras. Com honrosas exceções somos um país de borra-botas.