No grupo Esporte pela Democracia muito temos falado sobre a “última opinião” homofóbica, dita por alguém que tem voz, lugar de fala e visibilidade, o jogador de vôlei Maurício Souza. Para quem não soube, ele “postou algo sobre o absurdo que é o filho do super homem ser bissexual, que mal exemplo para nossa infância e juventude”, algo nessa linha. Prato cheio para a extrema direita.
Nos orgulhamos e agradecemos atletas e jornalistas que se posicionam contra a homofobia, que por mais que esteja, constitucionalmente, enquadrada como crime, muitos ainda acham que é liberdade de expressão. Entendemos os que são contra, mas ficam calados porque tem muito em jogo. Apoiamos os que são atacados por manifestar-se contra. Como Felipe Andreolli, que falou ao vivo, no Globo Esporte, contra a homofobia. Após sua fala, recebeu muitas congratulações dos colegas jornalistas, pois nos representou, foi nossa voz. Respondeu que só falou a verdade. Depois disso, passou a ser atacado nas redes.
O que é democracia? O que é democracia no esporte? É respeitar a diversidade humana e lutar por igualdade de direitos para todos, sem discriminar raça, credo, gênero e, tão pouco, orientação sexual. É aí que entramos no paradoxo da intolerância. Se lutamos por igualdade e justiça, não podemos tolerar os que lutam contra. Temos que repetir infinitamente que homofobia e racismo são crimes, até que todos entendam o que é um crime.
Tolerar não é o mesmo que aceitar. Os conservadores precisam aceitar que existem relações homoafetivas, negros e mulheres em espaços de poder e indígenas donos de suas terras. E os progressistas precisam tolerar os conservadores. Assim ficaria bem mais fácil. O problema é que conservador não tolera nem ver um desenho de dois garotos fictícios se beijando! Enquanto progressistas se divertem no casamento das duas amigas e postam fotos nas redes sociais. Como deveria se, como é a vida, nem deveria ser ativismo isso.
Mas, o que tem me surpreendido é a repercussão dessa história. Maurício Souza, foi cortado da seleção brasileira de vôlei e teve rescisão de contrato do Minas Tênis Clube. Tentou desculpar-se, mas numa rede em que tinha pouquíssimos seguidores. Já em sua conta de Instagram, em alguns dias os 200 mil viraram 1,7 milhão. Então penso nos robôs, nas compras de seguidores, num possível interesse político da direita. Enfim, também penso que pode ser orgânico (o que também é assustador), já que o também jogador de vôlei, Douglas, pouco antes do início dos Jogos de Tóquio, passou de 200 mil para mais de 1 milhão de seguidores, após um vídeo engraçadíssimo, desfilando com as camisetas da seleção. Eu não seguia o Douglas, vi o vídeo, o conteúdo do seu perfil e comecei a seguir, assim como enviei para alguns amigos e repostei. Se o crescimento da popularidade do Douglas foi orgânica, porque a do Maurício não seria?
Deboche com Pipoca
Um dia passou no pefil do meu feed o @debochecompipoca, já que esses algoritmos aterrorizantes sabem de tudo o que eu gosto e sou essa pessoa dos filmes e séries. Era um card da série Dark, a minha ficção preferida. Fui no perfil, me identifiquei demais. São resenhas debochadas e irônicas, de filmes e séries, com algumas críticas sociais e de costumes. Mandei uma resenha do TBBT (The Big Bang Theory, minha comédia preferida) pro cara que administra, que respostou e vez ou outra conversamos sobre dicas de séries e filmes e envio algumas. Hoje enviei uma frase resenha sobre a minissérie Missa da Meia-noite (que vi e me impactou bastante). Ele gostou e disse que vai postar, mesmo sabendo que pode perder seguidores, porque fala bem de ateu. Já perdeu por conta de um post da Frida. E me falou de vários outros.
Minha sugestão foi: Missa da meia-noite, os ateus são as melhores pessoas. Percebam, não agride ninguém e, se coloca o ateu num lugar de soberba, o próprio nome da página já diz que é um deboche. Nunca vi card racista, homofóbico ou misógino. Se houvesse, deixaria de seguir e denunciaria. Mas já tentaram derrubar várias vezes por posts como esse, falando bem de ateu.
Está tudo queimando, chuva de areia no Brasil, crise hídrica, pessoas pegando restos de comida do caminhão de lixo, pandemia que não passa e ainda estão querendo controlar quem transa com quem? Se acredita em deus ou não? Muito difícil manter a sanidade mental nesses tempos sombrios que vivemos no século XXI.
Mas sigo assim, no deboche, lutando pela democracia e não tolerando os intolerantes.