"Faz de Conta que NY É uma Cidade”, de Martin Scorsese, faz valer cada centavo pago ao Netflix

A série de sete episódios persegue a escritora Fran Lebowitz em suas peregrinações e opiniões sobre a cidade enquanto o espectador não para de rir

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"Faz de Conta que NY É uma Cidade", série concebida e dirigida por Martin Scorsese faz valer à pena cada centavo pago pela Netflix. São sete episódios com menos de meia hora cada um onde basicamente o que ocorre em todos é a fala profusa e muito, mas muito divertida da escritora Fran Lebowitz.

Não sabe quem é? Tudo bem. Lebowitz é uma celebridade novaiorquina. Tem apenas quatro livros publicados: "Metropolitan Life" (1978) e "Social Studies" (1981), compilações de crônicas que ela publicou em jornais e revistas americanos. Já "The Fran Lebowitz Reader" (1994) é uma compilação destas compilações. Seu último, de 1994, é "Mr. Chas and Lisa Sue Meet the Pandas", uma história para crianças.

No final das contas é isso mesmo. Lebowitz não publica nenhum livro há 25 anos, mas nunca deixou de ser uma celebridade americana, dando palestras por todo o país que são verdadeiros espetáculos de stand up. Seu humor é corrosivo, raro, com um raciocínio rápido e mordaz.

A série dá um tema para cada episódio e deixa a escritora, amiga pessoal de Scorsese, falar à vontade. E ela fala mesmo. Sempre sobre Nova Iorque e suas mazelas. Lebowitz não cai nunca no lugar comum e mesmo quando responde o extremo oposto do que o interlocutor pergunta, jamais é agressiva.

Uma de suas máximas pode ser resumida na resposta: "Não me importo se as pessoas concordam comigo ou não. Meu sentimento se alguém não concorda comigo é, OK, você está errado. Isso é uma coisa com a qual eu nunca me preocupei".

Tanto em imagens de arquivos quanto outras inéditas, a cronista destila seu mau-humor pra lá de engraçado sempre em observações agudas quanto à cidade. Em um determinado momento, ao comentar sobre um ex-morador que quer voltar, mas afirma não ter dinheiro para viver na cidade, ela não resiste e dispara: “ninguém tem dinheiro para viver em Nova Iorque, mas vivemos”.

Scorsese, por sua vez, deixa tudo correr de maneira suave e tranquila, com imagens de locais, ruas e avenidas da cidade e, sobretudo, gente, muita gente que passa pela sua câmera como se ela não existisse.

Ao final das contas, o mais incrível acontece. Ao invés de dar vontade de conhecer Nova Iorque, o espectador fica com inveja de não ser amigo de Fran Lebowitz.