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OPINIÃO
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Derrotar a aliança entre o bolsonarismo e os neoliberais vai demandar muita luta e uma candidatura a presidente unitária
- Está se tornando um padrão. Desde 2019, a cada crise do governo Bolsonaro a militância de esquerda se entusiasma com a possibilidade do impeachment. E, por algumas semanas, o “Fora Bolsonaro” se transforma no centro da ação política do campo progressista, gerando expectativas grandes, e, posteriormente, desilusão e até desalento.
- Claro que agitar a consigna do “Fora” é importante – aliás, tática mais que pactuada em todo o campo progressista. O problema é deixar que a mobilização em torno dessa bandeira bagunce a capacidade de análise, a tática, a perspectiva e a estratégia da esquerda.
- Desde de os primeiros meses do governo Bolsonaro, muita gente apostava em sua queda iminente. Ou em seu enquadramento. Sim, houve um movimento da direita liberal via STF, mídia e Congresso que freou arroubos neofascistas.
- Mas, nunca esteve – e não está – colocada a perspectiva de queda de Bolsonaro. Por inúmeras razões, a começar pela mais óbvia: nenhum governo com 30% de apoio sofre impedimento. Collor caiu porque só tinha 9% de apoio e Dilma, 8%. O resto é o resto.
- Há muita boa fé, esperança, expectativas entre nós com a chama direita neoliberal. Um mero editorial do Bonner nos anima. Um tuíte do Amoedo nos enche de esperanças. Se Rodrigo Maia pisca, a gente se deleita.
- É compreensível a ânsia para nos livramos de Bolsonaro o mais rápido possível, de qualquer jeito. Mas a esquerda não pode abrir mão de uma análise mais geral do quadro político nacional e internacional.
- O bolsonarismo só foi possível porque as elites romperam com o pacto de 1988 e deram um golpe. É verdade que queriam eleger um tucano, mas, não sendo possível, apoiaram o ex-capitão sem pestanejar.
- As diferenças que os neoliberais têm com os neofascistas são bem menores do que as que eles têm com a esquerda. Guedes é o ministro forte de Bolsonaro, e, aos trancos e barrancos, há uma hegemonia ultraliberal que guia as políticas do governo.
- A presidência de Bolsonaro não é apenas mais uma na sucessão democrática normal. Trata-se de um governo eleito pós-golpe, com métodos neofascistas, com uma agenda ideológica permanente, o que muitos chamam de “guerras culturais”. O bolsonarismo não acabará se Bolsonaro cair amanhã. Trata-se de uma disputa de médio e longo prazo.
- O Brasil não sorrirá de novo se tirarmos Bolsonaro do governo federal. Sem derrotar o programa neoliberal e enfraquecer a ultradireita, de nada adianta um eventual – improvável – impedimento do atual presidente.
- Não podemos cometer dois erros graves. O primeiro: subestimar Bolsonaro e a força do neofascismo. Tem gente que o chama de “incompetente” até hoje! O segundo erro é acreditar que uma “Frente Ampla” com os neoliberais seria a solução. Acreditar no “espírito democrático” daqueles que romperam com a Constituição de 1988 não dá.
- As mobilizações de rua em pleno agravamento da pandemia estão inviabilizadas. Seria uma contradição gigantesca a esquerda convocar aglomerações. Por outro lado, é importante intensificar a agitação de redes, os panelaços, as ações simbólicas. Sobretudo tendo como foco a volta do auxílio emergencial, a vacina para todas, emprego e renda. Desgastar o governo mostrando que ele não faz nada de bom para o povo. Tentar arrancar vitórias parciais no Congresso Nacional.
- Acuado, mais uma vez, Bolsonaro arreganha os dentes. Vai para cima dos seus adversários da direita (Doria é o grande antagonista) e volta a flertar com o fechamento do regime: “são as Forças Armadas que decidem se um país é democrático ou não”.
- A resposta dos capitalistas é pedir mais reformas neoliberais. Manifestos lançados em 18 e 19 de janeiro por entidades do setor industrial e de serviços clamam pelo aprofundamento da agenda de desmonte do Estado e das políticas públicas. Aproveitam o momento de fragilidade de Bolsonaro para emplacar sua agenda. Não cogitam derrubar o ex-capitão.
- Sem ilusões, é preciso construir a Frente de Esquerda e antineoliberal. Entender que estamos em um período de defensiva da esquerda no Brasil (embora haja sinais auspiciosos de retomada das forças populares na América Latina).
- É preciso fazer tudo para desgastar o governo Bolsonaro, desde já. Mas, devemos trabalhar com o cenário principal: ele estará no 2° turno em 2022.
- Por isso, é fundamental construir desde já uma unidade política e social e partidária. A Frente de Esquerda. Com um programa e identidades e objetivos comuns, combinando o jogo desde já.
- O PT, maior partido desse campo, tem como desafio não só impulsionar a Frente de Esquerda, como também garantir a unidade em torno de uma candidatura forte para 2022.
- Não é compreensível que, mesmo dentro do PT, se subestime a importância da luta pelos direitos políticos de Lula. O #anulaSTF diz respeito à própria reconstrução da democracia no Brasil. Se Lula não tem direitos políticos é porque toda esquerda segue interditada.
- Mas, além disso, Lula segue sendo o principal nome do campo popular. O único que pode agregar um grande leque de forças progressistas. Que pode polarizar o país contra Bolsonaro, sem que a esquerda fique refém de uma candidatura tipo Doria ou Huck. Lula é o único que pode trazer o PCdoB, e mesmo o PSOL (alguém acha que Boulos se candidataria contra Lula?), mais setores do PDT, do PSB e até nacos da centro-direita.
- O maior medo dos caras é Lula de volta. Que os cirominions não admitam isso eu entendo. Que boa parte do PSOL também não goste da ideia, idem. Mas, que no PT haja dúvidas sobre a centralidade de recolocar Lula no centro do tabuleiro é algo difícil de compreender.
- Derrotar o bolsonarismo vai demandar muita luta social. Muita unidade no campo progressista. Muita luta política e ideológica. De imediato, centralizar o movimento oposicionista. Para isso, é preciso apresentar um programa emergencial e uma candidatura à Presidência.
- Somente a campanha Lula presidente pode dar foco e trazer um sentido unitário ao campo progressista, colocando de novo, uma perspectiva de vitória eleitoral, um programa e a esperança da volta da esquerda ao governo.
- Nesse sentido, um realinhamento é necessário. E deve partir do PT, maior partido. Sim, vamos agitar o “Fora Bolsonaro e Mourão”. Mas, vamos construir desde já uma tática, um programa e uma candidatura para enfrentar o bolsonarismo em 2022.
- Retomar a pressão sob o STF e lançar Lula, com um programa emergencial e mais uma plataforma de reconstrução do Brasil, é a melhor maneira de potencializar a força popular contra o neoliberalismo e o neofascismo.
- Fora isso, é a dispersão de forças e o cultivo de ilusões com as elites golpistas. Ou pior, o reforço da fragmentação do campo progressista.
- LULA INOCENTE! #AnulaSTF! Lula Presidente! Fora Bolsonaro e Mourão! Nem Maia, nem Huck, nem Doria podem liderar a oposição! Esquerda no governo.