Geralmente início as minhas aulas e discussões sobre masculinidade com a pergunta que dá título a este texto: o que é um homem? Para muitas pessoas tal questionamento é absurdo, pois, está dado o que é "ser um homem".
Deixando as reações e comentários correrem soltas, inicio um exercício: quando refletimos sobre a resposta da pergunta sobre o que é ser um homem, quais são as imagens que brotam em nossa mente? É um homem branco? Heterossexual? Qual é a sua classe social? Que roupa ele veste? Onde ele mora? É de São Paulo ou Salvador? E por aí vai. As respostas variam a depender do lugar onde a pergunta é feita.
Gosto de aplicar este exercício pelo simples fato de que, enquanto homens, não somos educados para refletir sobre a nossa existência. Bom, pelo menos na primeira etapa de nossas vidas. Provavelmente seremos levados a refletir sobre a nossa existência masculina quando nos dermos conta de que vivenciamos uma masculinidade não tradicional: bichas, homens trans, homens negros, homens heterossexuais que não gostam de vivenciar os códigos normativos etc.
É uma discussão sem fim, mas que abre estrada para um debate e reflexão intermináveis. Todavia, me parecer ser interminável quando realizada fora de algumas categorias, tais como raça, classe, orientação sexual e gênero. Também é preciso geo-localizar: dentro do Brasil os formatos de homem são variados, quando saímos do país, se multiplicam, quando vamos para outro continente, nem se fala, os referenciais se modificam completamente.
Coloco essa questão, pois, nos últimos anos temos acompanhado uma explosão da formação de grupos com o foco em discutir as masculinidades. Isso é bom, mas algo me incomoda: a masculinidade reduzida aos comportamentos ou estética, à vida privada e de certa maneira ao espaço público. Sempre que leio as discussões ou textos das produções mais recentes, sinto falta de um tempero a mais neste caldo.
Por exemplo, qual é a relação da masculinidade tradicional com o patriarcado? Como o patriarcado no Brasil está organizado de maneira a hierarquizar os corpos a partir de seus respectivos gêneros e classe? Qual é a relação do "ser um homem" com o modo de produção capitalista? Porque encontramos reproduções misóginas e machista na esquerda, nos grupos progressistas e nos grupos anarquistas? Esse é um outro exercício que gosto de aplicar.
Afinal, o que é um homem?
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum