"Não podemos radicalizar as coisas! Precisamos de algo que seja agregador! Essa polarização só dificulta as coisas!”. Esse discurso tão bonito, agradável e, aparentemente, sensato esconde uma das maiores atrocidades do nosso tempo: a covardia! E mais ainda, a hipocrisia! Porque ele é dito, majoritária e eu arriscaria exclusivamente por quem está do “lado tranquilo da história”. A nossa velha conhecida “classe média”.
Pior ainda quando esse discurso toma ares religiosos e “em nome de Deus” se prega uma acomodação ao sistema e uma letargia social fantasiada de “cordialidade cristã”. Mais uma vez esse discurso é dito por quem está tranquilo na história: pastores e líderes que vivem confortavelmente às custas do sacrifício dos mais pobres.
Nada mais distante do Evangelho que essa pseudo mansidão.
Jesus era radical nos seus conceitos, falas e, principalmente, na vida e forma de provocar os religiosos de sua época. Tanto que foi acusado certa vez de agir “pelo poder de Belzebu, o príncipe do demônios.” E é aqui que Jesus radicaliza, polariza e expõe a coisa toda: “Quem não é por mim, é contra mim.” Mais claro que isso, impossível!
E antes que a “bancada evangélica” tome esse texto para si como tem feito até hoje, exatamente para garantir seus pontos dessa polarização, que tal analisarmos o contexto em que Jesus diz isso?
Jesus é acusado de agir “pelo poder de Belzebu” depois de três fatos:
- Seus discípulos comerem espigas de uma plantação
- O homem que tinha a mão mirrada ser curado na sinagoga
- Um “endemoniado”, cego e mudo, ser “liberto”
E isso tudo num sábado, o que era contra a lei.
A chave para interpretar essa passagem está num verso bem no meio da narrativa: “Não esmagará a cana rachada, nem apagará o pavio que fumega, até que faça vencer a justiça.”
Sim! É preciso radicalizar quando se trata de justiça social. Não há meio termo quando se trata de matar a fome e devolver a dignidade aos seres humanos. Os discípulos invadem uma plantação e comem as espigas porque a fome era gritante. Curar a mão mirrada de um homem é devolver-lhe a capacidade de trabalho e sustento. Libertar um rapaz cego e mudo é devolver-lhe a voz e o direito de enxergar as coisas como são. Há uma denúncia social clara nesse texto!
Sim! Jesus seria chamado de “petralha radical” com a sua afirmativa, principalmente por lutar contra um sistema que calava e cegava pessoas, que valorizava mais a “lei” que a fome da gente simples e que tirava do ser humano sua capacidade de trabalho. Essas coisas, sim, são diabólicas na ótica de Jesus. E quem não está com ele, está contra ele...
Radical esse Jesus, não?