Pró-vida ou Pró-parto?, por Zé Barbosa

Esses grupos não estão nem aí para a VIDA. Eles são “partomaníacos”. Só defendem o parto (e mesmo assim como instrumento de controle do corpo das mulheres)… e depois, que cada um se vire num mundo de meritocracias

Grupo religioso, em frente a hospital de Recife, tenta evitar aborto de menina de 10 anos (foto: Twitter)
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Ainda não consegui deixar de pensar sobre o episódio da menina de 10 anos, abusada e violentada sexualmente por um tio (que agora acusa também outro tio e o avô) e que, grávida, realizou legalmente o procedimento abortivo, mas para isso teve que fazê-lo em outro Estado e sob a ira insana de religiosos que se dizem “pró-vida”.

Nada mais distante da verdade do que esse grupo se dizer pró-vida. Não são e nunca foram defensores da vida humana. Se muito, defendem apenas que haja o parto, mas depois disso esquecem da vida e assumem suas perversidades religiosas e políticas no seu dia-a-dia. Senão, vejamos:

Onde estavam esses grupos “pró-vida” nas muitas manifestações contra o genocídio da juventude negra? Você lembra de ter visto alguns desses “bravos guerreiros” (aqui a ironia é necessária) nas ruas lutando contra o racismo, denunciando-o como pecado e violência, como algo que fere a dignidade humana e reduz seres humanos a meras coisas só por conta da cor da sua pele? Você os viu por lá? Eu não… O deus deles tem raça e cor: branco!

Alguém lembra dos “pró-vida” nas diversas lutas da comunidade LGBTQI+, no país que mais mata homossexuais no mundo? A vida dos homossexuais não importa? E quando sabem que a média de vida de um/uma transexual é de 35 anos (menos da metade da expectativa de vida de um/uma cisgênero)? Eles vão às ruas lutar por essas vidas? Não vão… o deus deles tem orientação sexual: é heterossexual e cisgênero.

Já viu um “pró-vida” junto às mulheres na luta contra o feminicídio que a cada dia cresce em nosso país e tira a vida de milhares de mulheres pelo simples fato de não serem homens? Consegue ver esses grupos nas passeatas organizadas por grupos feministas contra a violência doméstica que acontece majoritariamente em suas casas, na “tradicional família brasileira”? Não viu e nem verá… O deus deles têm gênero: é masculino, machista e misógino.

Lembra ainda de ver os grupos “pró-vida” encampando e encabeçando campanhas de adoção de crianças abandonadas ou órfãs? Ah sim… você os verá caso as famílias que desejam adotar essas crianças sejam homoafetivas. Aí eles aparecem… aos montes… para destilar novamente todo ódio à vida que eles realmente têm.

Por fim, já viu esses grupos “pró-vida” defendendo a educação sexual nas escolas? Porque isso sim, reduziria, e muito, o número de casos de pedofilia, estupro e violência sexual contra os menores que eles dizem defender. Aliás, estranho é nunca encontrar esses grupos cobrando das igrejas explicações pelas centenas de acusações de pedofilia e estupro. Não… esses grupos não estão nem aí para a VIDA. Eles são “partomaníacos”. Só defendem o parto (e mesmo assim como instrumento de controle do corpo das mulheres)… e depois, que cada um se vire num mundo de meritocracias…

São os mesmos falsos religiosos de sempre, aqueles aos quais Jesus uma vez denunciou “na cara”, dizendo: “Ai de vós também, doutores da lei, que carregais os homens com cargas difíceis de transportar, e vós mesmos nem ainda com um dos vossos dedos tocais essas cargas.” (Lucas 11.46)

O deus dessa turma, se é que ele existe, é o diabo que eles tanto pregam!

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