Por Zé Barbosa
Raiva, nojo, ira, revolta, indignação, náuseas... Escolha qualquer uma dessas coisas, ou todas juntas e será o resumo do que senti ao ver um grupo de fundamentalistas religiosos que atendeu ao chamado de uma bandida para estarem na porta de um hospital para pressionarem a não realização de um procedimento abortivo em uma menina de 10 anos.
Vou repetir, 10 ANOS, que vinha sendo estuprada há 4 anos por seu tio e que, por fim, engravidou em uma dessas sessões de terror, violência e violação de seu corpo.
Esse grupo se diz “em nome de Deus, defensor da vida”...
Mentirosos! Hipócritas! Em nada defendem a vida.
São os mesmos que fazem sinal de “arminha com a mão”, os mesmos que defendem que “bandido bom é bandido morto”, são os que concordam que as pessoas estão nas ruas “porque querem estar, porque é cômodo”, é essa laia que não liga quando uma criança é assassinada pela Polícia, mas lota a frente de um hospital para defender o estuprador, porque é isso que, na verdade, fizeram.
Eu não tenho dúvidas de que, fosse em nossos dias, Jesus estaria na frente daquele hospital, ao lado das mulheres do Fórum de Mulheres de Pernambuco, que se fizeram presentes, para defender o direito daquela menina de interromper essa gravidez, fruto dessa monstruosidade. Aliás, acho que Jesus expulsaria a turma fundamentalista que lá estava da mesma forma que expulsou os vendilhões do templo: nada de “nota de repúdio”, mas sim chicote no lombo dessa gente que usa da religião para oprimir e manipular. Eles finalmente se sentiriam, como tanto desejam, nos “tempos bíblicos”. Porque essas pessoas não são humanas, não querem ser... E muito menos “cristãs”!!!
Uma delas chegou a postar em suas redes sociais: “quatro anos sendo estuprada até se engravidar e não falar nada com ninguém? Será que ela é tão inocente assim?” E insinua que a menina pode ser como muitas outras mulheres que, segundo ela, estão “pior que cachorras no cio”. Sim, ela está falando isso de uma criança que começou a ser estuprada aos 6 anos de idade!
Mas é claro que a culpa é da menina.
Jamais seria do tio que a violenta há 4 anos. Isso não pode acontecer na tradicional família brasileira!
Assim como os casos de estupro de menores por padres e líderes religiosos, que por décadas foram acobertados pela Igreja Católica. Culpa dos menores, é claro! Devem ter seduzido os inocentes e castos padres. (Tenho que explicar que este parágrafo foi totalmente irônico. Sei lá, né? Vai que algum “defensor da vida” leia e ache que eu concorde com ele...)
O deus dessa gente abençoa os estupradores, os que cometem violência doméstica, os que espancam mulheres e cometem todo tipo de abuso.
São essas pessoas que acobertam os verdadeiros criminosos, achando que “deus os corrigirá”. São essas pessoas que ostentam nas ruas e nas redes a defesa da “família”. São as mesmas que dizem que “a esquerda quer legalizar a pedofilia no Brasil”. Gente estúpida. Gente hipócrita. “Será que nunca faremos senão confirmar a incompetência da América católica (e evangélica também) que sempre precisará de ridículos tiranos? ” É, Caetano, somos uns imbecis!
Infelizmente somos obrigados a assistir barbáries como essa simplesmente pelo bel prazer de fanáticos que, em nome de Deus, se sobrepõem à dignidade humana e ao verdadeiro direito à vida. Sim, o verdadeiro direito à vida quem deveria ter era essa criança que havia decidido interromper a gravidez para não haver mais sofrimentos, nem dela e nem da criança. Se dependesse daquela gente não teria direitos…
Até quando seremos reféns dos homens-deuses que se julgam no direito de mandarem nas vidas alheias? Até quando o fanatismo religioso continuará a comandar atrocidades em nome daquele que certamente condenaria toda essa hipocrisia? Até quando nos veremos presos à vontade imperiosa de organizações que deveriam se importar com outras coisas? O fanatismo religioso é, sem dúvida alguma, uma das maiores pragas da humanidade. A falta de equilíbrio leva homens e mulheres à loucura, e o pior, julgando-se donos da razão, e em nome de “Deus”.
Em nome de seu Deus, fundamentalistas explodem torres, trens e vidas. Em nome de seu Deus católicos e protestantes se matavam na Irlanda. Em nome de Deus o clero já levou milhares às fogueiras “santas” da inquisição católica. Em nome de Deus protestantes mataram católicos e camponeses que não aceitaram sua reforma no século XVI. Em nome de Deus, brasileiros elegeram um desgraçado perverso e genocida... Em nome de Deus… Em nome de Deus… esse deus que ajuda quem cedo estupra...
Desse Deus, sou ateu... inimigo... e o confrontarei, com todas as minhas forças, até o fim da minha vida!
Tenho nojo dele...