o que têm em comum o jovem palestino com o seu gesto humano, e pleno de empatia, e o velho paulistinha, desumano e cheio de antipatia?
ambos são filhos do carbono e feitos do mesmo material: carne, ossos, sangue e nervos.
só isso assemelha esses dois bípedes; no mais, é impossivel dizer que são dois espécimes da mesma espécie.
a dor que embarga o jovem se chama amor; rancor é o que define o desembargador.
um, zomba da morte e trata o seu semelhante com tanto desprezo que parece mesmo acreditar que são, eles, dois seres distintos.
uma superpessoa e uma não-pessoa.
o outro, puro instinto, sente a dor do seu igual, esforça-se para demonstrar-lhe amor e afeto.
como diria o venerando mestre cafuna: “ser humano é fácil, ser um mano é que são elas.”
os futurólogos otimistas, que acreditavam que na pós-pandemia surgiria uma outra humanidade, não poderiam estar mais errados.
é isso o que somos.
aquele macho branco é descendente de invasores de terras, seus ancestrais enriqueceram com a pilhagem, o estupro e o genocídio.
ele mesmo é um fazendeiro; o que mais ele seria?
o outro, vive numa terra invadida, pilhada, massacrada.
um urso é um urso, ursa onde estiver, todos os seus semelhantes se assemelham na sua ursidade, estejam eles no polo norte ou numa floresta.
nunca diremos: “aquilo é um urso, aquilo ali é um desurso.
mas diremos sempre e em toda parte: “aquele é um humano, aquele outro, um desumano.
e sabemos sempre quem é um e quem é o outro.
um é empático, o outro é o anti empático.
um sente dor e ama.
o outro é o outro.
age sempre outricamente.
se é que você me entende.
palavra da salvação.