Depois das "false flags" das prisões da perigosa “terrorista” Sara Winter e do “foragido” Queiroz, seguindo o “tic-tac” da guerra híbrida, o jornal Folha de São Paulo detona sua bomba semiótica: em editorial neste domingo exortou a todos aderirem a cor amarela como símbolo da “defesa da democracia”. Como lhe é peculiar, em tom megalomaníaco, arvora-se como vanguarda da “luta democrática” – resgatar o amarelo como símbolo democrático, libertando-o dos extremismos. Agora é “Amarelo Já!”. Porém, a Folha nos mostra um estranho matiz de amarelo, um amarelo bege. Diferente dos matizes amarelos limão, sólido e vibrante das domingueiras bolsomínias. O amarelo da Folha é um signo cromático para demarcar o “novo normal” do espectro político sob a lei antiterrorismo: nem o amarelo, o vermelho ou o preto-antifa dos “extremismos”. Mas, agora, o amarelo bege da “democracia”. Mas qual democracia? A armadilha do domínio total de espectro armada contra a esquerda e oposições, cujo gatilho será disparado no futuro. Amarelo bege: AME-O OU DEIXE-O!
Dia 2 de julho de 2019. Acontecia no Maracanã o jogo Brasil e Argentina, com a presença do presidente Bolsonaro e do ministro da Economia Paulo Guedes. Em um bar, do outro lado da cidade, Laura Macedo, uma advogada trabalhista, dizia que iria torcer pela seleção, “mas a camiseta do Brasil continua em casa, na parte de trás de uma gaveta. Não quero ser confundida com um apoiador de Bolsonaro ou política de direita”, disse.
E mais ao Sul do País, Euclides Bitelo, dono de uma padaria em Canoas/RS, que usava habitualmente a camiseta canarinho, também se tornou relutante em usá-la: “Sinto-me envergonhado de usar a camisa da seleção” – clique aqui.
A polarização política e a forma como a lendária camiseta canarinho da seleção brasileira de futebol foi apropriada às manifestações políticas de extrema direita chegaram a ser objeto de pauta de publicações de economia, como nessa matéria de 2019 de David Biller para a Bloomberg, agência de notícias de informações econômicas – a apropriação do uniforme pelo extremismo de direita parece estar incomodando os gestores de comunicação da Nike, patrocinadora da seleção.
A questão é que todo o esforço midiático na guerra híbrida brasileira em detonar sistematicamente bombas semióticas para criar um pseudoambiente na opinião pública que culminaria no golpe de 2016, implicou em queimar todos os ativos simbólicos nacionais – uma mobilização midiática nunca antes vista, desde o golpe militar de 1964: atores, filmes, minisséries, camiseta da CBF, bandeira nacional, sem falar de outros símbolos, como as armas nacionais, o selo nacional, o hino etc.
Controle de danos e o amarelo da Folha
No rescaldo do golpe de 2016 (crise econômica crônica e crise política), todos os principais atores nacionais da articulação da guerra semiótica iniciada em 2013 (nas “Jornadas de Junho”) começaram a tentar apagar a memória dessa implosão cívica.
A TV Globo foi a primeira, ao fazer uma política de controle de danos: no jornalismo mobilizou pautas identitárias, feministas, raciais e de gênero para tentar se descolar da extrema direita à qual dava visibilidade diária nas manifestações anti-Dilma.
E agora, é o jornal Folha de São Paulo: depois de um sem número de primeiras páginas com patos amarelos da Fiesp e fotos de avenidas repletas de camisetas, faixas e bandeiras amarelas com extremistas raivosos gritando por impeachment e golpes militares constitucionais, agora tenta jogar água fria na fervura.
“A Folha busca inspiração no seu papel histórico nas Diretas Já para resgatar a cor amarela como símbolo da democracia”, diz o editorial publicado pelo jornal neste domingo. E exorta a Folha: Assim, as vitrines das edições dominicais trarão uma faixa dessa cor com os dizeres #UseAmarelo pela Democracia, e o slogan da Folha desde 1961, UM JORNAL A SERVIÇO DO BRASIL, passa temporariamente para UM JORNAL A SERVIÇO DA DEMOCRACIA até as próximas eleições presidenciais”.
O que é sintomático nesse “amarelo”, que a Folha pretende resgatar supostamente por ideais de “campanha da democracia”, é o matiz: um estranho amarelo bege estampado nas primeiras páginas.
Cabe a pergunta: qual amarelo, cara pálida? Amarelo profundo? Amarelo limão? Amarelo vibrante? Pois essa foi a evolução cromática dos amarelos das diversas edições do uniforme canarinho desde a Copa de 2002. E que foram apropriadas pela estratégia simbólica "alt-right" da extrema direita brasileira.
Apropriação e ressignificação
Essa Cinegnose já abordou em postagem anterior a estratégia semiótica da chamada direita-alternativa ("alt-right"): apropriação de símbolos para ressignificá-los como ícones – como, aliás, é a base do mecanismo de produção dos memes. A iconificação ou iconicização - clique aqui.
As origens estão lá na década de 1920, com a construção do logo da suástica nazi: pega-se um símbolo místico budista tibetano e “iconifica” invertida e colocada na forma sinistrogira (giro anti-horário, ao contrário da normal, dextrogira), num design clean, tornou-se um ícone.
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*Este artigo não reflete, necessariamente a opinião da Revista Fórum