Por anos, o poder de coação e intimidação do exército ficou apoiado na sua capacidade de garantir o monopólio do uso da força pelo Estado. Não é por menos que as forças armadas eram menos “problemáticas” nos governos que vieram antes do ex-presidente Lula assumir a presidência da república.
Sucateados, com falta de verba e orçamento. Não era desleixo, não era incompetência. Era prudência, os militares não devem em hipótese alguma se envolverem na sociedade civil.
Não é por menos que até 2002, tivemos menos “problemas” com generais do que nos anos seguintes.
Em 2015 (governo Dilma), investimos 31,9 bilhões de dólares em nossas forças armadas, mostrando que o país investiu até mesmo mais que Israel! Sem falar do uso excessivo das forças armadas em ações de segurança pública, algo que foi até mesmo banalizado por governadores e principalmente pelo estado do Rio de Janeiro.
Ainda em 2008 o próprio general Heleno já causava problemas e incômodos para a sociedade democrática.
Ele foi chamado à capital federal para esclarecer as críticas que fez no seminário Brasil, Ameaças à sua Soberania, no Clube Militar. Ele definiu a política indígena brasileira como "caótica" e "lamentável" e criticou a demarcação em área contínua da Reserva Indígena Raposa Serra do Sol.
E depois disso foi uma sucessão de problemas e embates com militares que não se contentável com suas obrigações e com a permanência em seus devidos moldes institucional, o auge disso tudo foi o já combalido General Villas Bôas ameaçando o Supremo Tribunal Federal na véspera do julgamento envolvendo o ex-presidente Lula. Deveria ter sido algemado e punido, infelizmente não foi.
Desde então a ousadia dos militares em interferir na sociedade civil não teve limites, a tal ponto que chegamos na situação onde estamos, onde os militares não conseguem sair do abismo em que se colocaram.
A revelação do vídeo da reunião ministerial de 22 de abril mostrou que o problema é muito mais grave.
Entre dois generais (Mourão e Braga Netto) Bolsonaro se sentiu confortável de afirmar que defende a “milicianização” do país, com população armada para fazer frente às forças de segurança.
Milícias são prejudiciais para as forças armadas pois competem com o seu monopólio de força e violência. Além disso a criação de milícias armadas promove e estimula a insubordinação na tropa, algo que o presidente busca desde antes de assumir a presidência.
Mas vai ter golpe?
O apoio para uma intentona e avanço contra a democracia ainda não é um consenso entre a cúpula militar. Isso já ficou claro em mais de um momento, inclusive, este que vos fala já esqueceu uma penca de colunas sobre o assunto.
Acontece que agora temos mais uma informação interessante. Um grupo com 100 generais e coronéis da reserva defende posse de Alexandre Ramagem na Polícia Federal desrespeitando a suspensão de nomeação determinada por STF. Fazem uma espécie de “lobby” dentro das forças armadas.
A atuação do grupo deixa ainda mais estridente que ainda não existe um consenso entre os fardados para solaparem a democracia, mas ao mesmo tempo indica que mesmo sendo um grupo da reserva, militares já começam a serem seduzidos pelo canto da sereia golpista.
Vamos para mais uma discordância na cúpula. A colunista do UOL, Carla Araújo publicou a declaração em off de um general da ativa que afirmou: "fogo se apaga com água, mas não falta quem jogue gasolina. É lamentável. Um gesto faz cruzar uma linha, que provoca uma reação e assim por diante".
Por enquanto tudo é muito incerto, a única coisa que sabemos é que os militares estão emparedados. Já falei aqui, terão que escolher entre a pátria e Bolsonaro.