"Não há evidências para recomendar cloroquina contra Covid-19", diz diretor da OPAS

Marcos Espinhal, diretor do Departamento de Doenças Comunicáveis da OPAS, braço da OMS nas Américas, diz que cloroquina causa danos colaterais significativos. Leia na coluna de Ana Prestes

Marcos Espinhal, diretor da OPAS (Foto: Divulgação/OMS)
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Sobre a polêmica do uso da cloroquina e a hidroxicloroquina que está em alta no Brasil, o diretor do Departamento de Doenças Comunicáveis da OPAS (braço da OMS nas Américas), Marcos Espinal, disse em conferência de imprensa que “não há evidências para recomendar cloroquina e hidroxicloroquina contra Covid-19”. Ele complementou que além de não haver benefícios comprovados, o medicamento possui efeitos colaterais significativos. A recomendação casa com o desaconselhamento por parte da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) para o uso do medicamento.

Ontem (18) foi um dia de notícias importantes sobre potenciais vacinas e medicamentos contra a Covid-19. Dos EUA veio a notícia dos testes positivos de uma vacina da empresa de biotecnologia Moderna. Foram oito pacientes que receberam pequenas doses da vacina e desenvolveram anticorpos semelhantes ou superiores aos encontrados em pacientes já recuperados da doença. E, da China, veio a notícia de uma pesquisa da Universidade de Pequim que permitiria imunizar temporariamente as pessoas contra a Covid-19. O medicamento seria usado principalmente na proteção dos profissionais da saúde, até que uma vacina seja desenvolvida. O mundo caminha para 5 milhões de pessoas oficialmente contaminadas pelo vírus.

Mesmo com uma grande subnotificação, o Brasil agora é o terceiro país do mundo com mais casos de infectados por coronavírus com registro, atrás apenas dos EUA e da Rússia. E esse Brasil campeão em casos de coronavírus foi representado na videoconferência de ministros de saúde de todo o mundo, organizada pela OMS, pelo ministro interino Eduardo Pazuello. Na reunião pintou um quadro bastante diferente do que vemos todos os dias por aqui ao vivo e a cores. Reforçou que no Brasil há dialogo permanente entre os três entes federativos, a União, os estados e os municípios. Agradeceu aos profissionais de saúde e disse que o Brasil apoia as iniciativas internacionais, sendo que o Brasil ficou de fora do ACT Accelerator, uma aliança de países e da OMS para tornar acessíveis possíveis vacinas e medicamentos contra o vírus.

O governo Trump voltou a recolocar Cuba na lista de países que “patrocinam o terrorismo” definida pelo executivo norte-americano. A lista é montada com base nos países que “não cooperaram totalmente com os esforços antiterroristas dos EUA” no último período, no caso, 2019. A lista inclui Irã, Síria e Venezuela. O ato se dá ao mesmo tempo em que Cuba exige explicações sobre o tiroteio havido em sua Embaixada em Washington há cerca de 10 dias. O chanceler cubano, Bruno Rodríguez, diz que há um “silêncio cúmplice” por parte das autoridades norte-americanas por não terem sido dadas explicações para o “incidente armado nem ter condenado o que a ilha considera um ‘ataque terrorista’”. Estar na lista dos países “terroristas” tem muitas implicações em relação às restrições comerciais, mas no caso de Cuba, todas as restrições e sanções econômicas e comerciais possíveis já estão vigentes, mesmo com o país fora da lista.

Os jornais europeus informam que não anda nada fácil a negociação dos termos concretos do Brexit. Com o foco total na pandemia, falar em Brexit e se dedicar a ele passou a ser um tema que tenta sugar energia de onde não há. Faltam cerca de 40 dias para expirar o prazo-limite dado ao Reino Unido para solicitar uma prorrogação das negociação, mas Boris não parece propenso a fazê-lo. Está preferindo um “pagar pra ver” caso as negociações não se esgotem e muitos aspectos da relação fiquem sem regulamentação. Há ataques de parte a parte nas mesas de negociação dos vários aspectos da batida em retirada do RU. Enquanto isso, aumenta a preocupação de que um “no deal Brexit” atinja especialmente a população britânica trabalhadora e mais pobre com a elevação dos preços dos produtos que chegam da Europa.

Trump mandou ontem (18) uma carta de quatro páginas para o diretor gera da OMS, Tedros Adhanom. Após cortar a contribuição dos EUA para a entidade em abril, agora ele ameaça congelar de forma permanente as doações porque, segundo ele, a OMS “não vem atendendo aos interesses” dos EUA. Na carta, Trump diz se dirigindo pessoalmente a Tedros: “é claro que os erros repetidos que você e sua organização tomaram na resposta à pandemia custaram extremamente caroao mundo”. Agora, uma resposta da OMS é esperada ao longo do dia de hoje. Estão no contexto da carta, a atitude do governo chinês de anunciar ontem o envio de uma contribuição de 2 bilhões de dólares para a OMS e também de que no caso de ser encontrada uma vacina para o novo coronavírus, esta deve ser de bem público. Algo que os EUA não admitem nem mesmo cogitar. Diante do anúncio dos 2 bilhões vindos da China para a OMS, um porta voz do Conselho Nacional do Conselho de Segurança dos EUA disse: “o comprometimento de 2 bilhões é um gesto para distrair os pedidos de um número crescente de nações que demandam maior responsabilização do governo chinês por seu fracasso. Por não dizer a verdade ao alertar o mundo sobre o que estava por vir”.

Uma nota que me escapou do final de semana foi que o ministro Luís Roberto Barroso do STF decidiu que a ordem de que os diplomatas venezuelanos deixassem o Brasil, dada pelo governo federal, não poderá ser executada enquanto durar o estado de calamidade por causa da pandemia do novo coronavírus no Brasil. Só lembrando que em março deste ano o Brasil fechou sua representação diplomática na Venezuela e deu ordem para que os venezuelanos representantes do governo Maduro deixassem o país até 2 de março. Os venezuelanos vinculados ao oposicionista Juan Guaidó podem ficar no Brasil, segundo o governo. O Brasil reconhece como interlocutor do país vizinho um cidadão não eleito para o executivo venezuelano, uma aberração diplomática sem tamanho. Brasil e Venezuela são grandes países da América do Sul, fronteiriços e com relações históricas desde a formação das nações latino-americanas após o período de colonização europeia.

No Chile, voltaram os protestos contra o governo e agora potencializados pela crise econômica aguda gerada pela pandemia do novo coronavírus. Ontem (18) ao sul de Santiago, na região da municipalidade de El Bosque, houve enfrentamento entre manifestantes e a polícia. Os protestos foram chamados pela falta de alimento e trabalho diante da pandemia. A capital Santiago está em lockdown. Na região há uma comunidade bastante empobrecida e vulnerável. Em uma reportagem da AFP, uma manifestante disse: “não é pela quarentena, é por ajuda, alimento, isso é o que estamos pedindo neste momento”. Durante a noite em pelo menos mais três regiões da grande Santiago manifestantes sofrerarm violência por parte da polícia. Antes da pandemia o Chile estava vivendo uma grande revolta popular, iniciada em outubro de 2019 e que fez o presidente Piñera baixar sua popularidade para 6 pontos. Em abril seria realizado um referendo por uma nova constituição.

Primeiro latino-americano a ser diretor geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), o brasileiro Roberto Azevedo antecipou sua saída do posto no último dia 14. Questionado se não deveria ficar dada a conjuntura da pandemia, Azevedo ponderou: “se eu ficar aqui, o vírus desaparecerá? O vírus não desaparece. Se eu ficar aqui, os EUA e a China, de repente, apertam as mãos e dizem: ‘OK, deixe o passado passar?’ Não, isso não vai acontecer. Nada vai mudar se eu ficar aqui”. Não fosse a pandemia, aconteceria no próximo mês de junho a conferência ministerial da OMC realizada a cada dois anos. Azevedo estava no cargo desde 2013. Desde que Trump assumiu a presidência dos EUA a organização perdeu poder, pois o norte-americano se vale do direito de veto para impedir os consensos necessários para várias decisões. O Órgão de Apelação, por exemplo, está paralisado.

Um fato do final da semana que também me escapou aqui as notas foi a aprovação dos membros da OCDE (37) ao ingresso da Costa Rica na organização. Agora, além da Costa Rica, fazem parte da OCDE, a Colômbia, o Chile e o México. O ingresso do Brasil ainda é incerto.