Há quem, em meio à chuva, veja sinais de seca. Está tendência tem nome: escapismo.
Bolsonaro fez, ontem, um discurso delirante. Tentou segurar a sangria aberta no bolsonarismo, mas de maneira irracional. Além do coronavírus, espalhou o vírus da sua loucura.
Há, contudo, quem procurou achar na loucura um sinal de racionalidade. Um delírio do analista sobre o analisado.
É hora de nós darmos conta do adoecimento de boa parcela do nosso país.
De um lado, elites desqualificada, uma espécie de lumpensinato cultural e político que vegeta no parasitismo econômico, viu em Bolsonaro o Calígula que faltava. Foi um tapa no tabuleiro desarranjando táticas, estratégias e qualquer bom senso. "Não tem jogo algum", gritou o veinho da Havan, o dono da hamburgueria de grã fino, o vendedor de pijamas das lojas do riachinho.
O escapismo é marca histórica desse tipo de elite que não olhava no espelho para não se deparar com os responsáveis pelo sofrimento de pais, mães e crianças negras que dormiam acorrentados nas senzalas ou se faziam de criados mudos, ao lado da cama de seus donos. Essa gente foi educada para ser má como atributo de casta. São desumanos e enxergam milhares de mortes com a mesma naturalidade com que abate animais para fazer a massa de carne que tosta no braseiro para enriquecer. São doentes e sua aposta no Nero tupiniquim é a prova de sua loucura.
Mas, há o outro lado adoecido. Sem saber no que apostar para mudar nosso ensaio de cegueira de toda uma nação, vivem olhando para o retrovisor. Baseados na sua bíblia de bolso, veem os sete selos rompidos a qualquer momento. Já bradaram o golpe dentro do golpe, a ditadura, a suspensão de diversas eleições. São os mesmo que veem racionalidade na demência. Porque o demente constrói um mundo paralelo e se nos esforçamos para compreender esse mundo, só logramos sucesso se somos tragados por esta dimensão imaginária.
Somente um ensandecido prega que toda uma nação se jogue no precipício. Somente um Jim Jones sugere o suicídio em massa como solução para a libertação. Somente um narciso saudosista vê na velhice um porte atlético que já se foi.
A peste veio para lavar nosso país deste transe, desta loucura coletiva que embala elites e parte da oposição que se perdeu em meio à frustração do impeachment que até hoje não soube explicar. Uma oposição que acreditava que as ruas eram suas já que foram ladrilhadas com as pedrinhas do trabalho de base dos anos 1980!!! 40 anos depois, continuam olhando para o retrovisor.
Vamos sair dessa crise. Vamos superar a peste e a recessão. Tantas vezes já superamos algo semelhante. Somos curtidos nas crises fétidas de uma longa história. Mas, a superação da loucura coletiva vai demorar um pouco mais. Teremos que ler várias vezes O Alienista para nós vermos de frente.