Quando, depois de mais de um ano de governo Bolsonaro, jornalistas do canal Globo News conseguem finalmente ligar lé com cré (admitir que as declarações do presidente não são “polêmicas” mas propositais) é porque realmente vivemos momentos muito especiais – bairros de classe média que votaram pesado no “17” agora batem panela gritando “Fora Bolsonaro!”, enquanto papel higiênico e máscaras desaparecem num típico comportamento irracional de psicologia das multidões. Além de assistirmos a um jornalismo asséptico, mergulhado no álcool em gel: fala em “solidariedade” enquanto ignora a distribuição desigual dos prejuízos. Para começar, dos mercados financeiros em relação à economia real. Essas são facetas da Pandemia do Coronavírus, revelando sua natureza de “domínio total de espectro”. Aquilo que, segundo o filósofo Slajov Zizek, representa “o sonho erótico de qualquer regime totalitário”. Não sejamos ingênuos semióticos: uma coisa é a ameaçadora mutação viral do novo coronavírus. Outra, é quando essa mutação vira um signo midiático, o sonho de qualquer regime totalitário.
"Uma pergunta frequente ouvida nos últimos 70 anos: como um povo sofisticado e culto, como o alemão, permitiu o surgimento do nazismo? Bem, olhe ao seu redor. A resposta está aí" (Peter McCabe, Aangirfan)
Eis que de repente caiu a ficha da redação do canal noticioso Globo News... Na edição de sexta-feira do programa "Em Pauta", os comentaristas convidados repercutiam mais uma bravata do capitão duble de presidente Jair Bolsonaro: “Depois de uma facada, não vai ser uma gripezinha que vai me derrubar”, minimizou o presidente a crise do COVID-19 após entrevista coletiva.
Estupefato, diante dos comentaristas que falavam sobre “mais uma declaração polêmica do presidente”, o apresentador Marcelo Cosme desabafou: “lá na redação estávamos debatendo que isso já não é mais uma declaração polêmica. Acho que Bolsonaro fala essas coisas deliberadamente...”.
Uau! Finalmente a Globo News conseguiu ligar lé com cré, depois de mais de um ano do atual governo de extrema-direita: sim! Declarações como essa fazem parte uma estratégia deliberada de Bolsonaro... não é “polêmica”. É guerra semiótica criptografada, como discute o Cinegnose desde o início.
Também outras fichas parecem estar caindo no telejornalismo do canal de notícias. A mais notável é o sumiço da palavra “empreendedorismo” da cena.
Nos últimos tempos, essa palavra era a mais citada em pautas de economia como a salvação dos brasileiros que viam os empregos sendo pulverizados pela crise crônica, mas tinham na veia do empreendedorismo a esperança mágica do momento em que a força de trabalho se converteria em capital. Tornando o antigo desempregado num mérito-empreendedor de sucesso! Bastava acreditar em si mesmo.
Jornalistas e analistas transformaram o empreendedorismo num guarda-chuva ideológico sob o qual cabia qualquer coisa: do pipoqueiro ao fundador de uma startup tecnológica; do desempregado que usou seu FGTS para comprar uma “food bike” e vender Browne numa bicicleta vintage ao ex-engenheiro que virou motorista de aplicativo para “ser seu próprio patrão”.
Até tinha uma telenovela que glamorizava esse sonho: “A Dona do Pedaço”, a novela das nove da Globo – a protagonista que ficou rica com receitas culinárias da família e montou uma rede de confeitarias.
Empreendedorismo sumiu das telas
A crise do novo coronavírus, a quarentena forçada e, golpe de misericórdia, o toque de recolher fechando comércio e evitando circulação e aglomeração de pessoas nos espaços públicos, foram o golpe fatal em um sonho que tinha tudo para dar errado: sem garantias sociais, além de não poder contar com uma rede social de proteção representada pela carteira de trabalho, os “empreendedores” foram deixados no vácuo: food bikes, food truckers, motoristas de aplicativos, pipoqueiros e toda uma legião de pessoas que acreditavam apenas no poder da força de vontade.
Diante da situação catastrófica de milhões de “empreendedores” sem conseguir ganhar o pouco que ganhavam antes, de uma hora para outra as expressões “empreendedorismo” e “empreendedor” sumiram do noticiário. No lugar, a designação real desses desempregados sem garantias trabalhistas e sociais.
Agora o noticiário os designa como “autônomos”, “trabalhadores informais”, “ambulantes”. Todos sem renda, à espera de algum plano ou medida do governo para ajudá-los.
Pedra de toque do discurso que legitimava as reformas trabalhista e previdenciárias desde a Era Temer, agora a panaceia do “empreendedorismo” é protegida do noticiário negativo. Sumiu! Nenhum “empreendedor” está em crise... só ambulantes, informais...
Esse é o jornalismo no álcool em gel, que perde os anéis, mas tenta salvar os dedos. Na tentativa de salvar semioticamente a palavra “empreendedorismo” (evitar que seja contaminada pelo vírus da desmoralização), a cobertura da crise nacional do COVID-19 torna-se tão asséptica quanto álcool em gel.
Dentro dessa estratégia semiótica para salvar a varinha de condão ideológica do empreendedorismo, o viés da cobertura tem sido a da “solidariedade” e da “empatia” dos brasileiros repentinamente postos em quarentena e isolamento social.
Propositalmente esconde que essa “solidariedade” e “empatia” é apenas entre os socialmente iguais – muitos já começam a ser sumariamente demitidos, embora as autoridades peçam “compreensão” e “negociação” para “garantir os empregos”.
É claro que o imaginário Casa Grande e Senzala, em torno da qual se estrutura a desigualdade brasileira, vai dividir os prejuízos econômicos dessa crise de uma forma bem desigual: vírus trazido pelos ricos para o Brasil, vai descer a pirâmide social e transformar os “empreendedores” sem renda das periferias em vetores que exterminarão a parcela da população mais vulnerável, os idosos e doentes... quem sabe isso faça parte de uma agenda oculta da reforma da Previdência...
No centro de toda essa pandemia do COVID-19 está a estratégia semiótica de manipulação de expectativas, assim como foram as reformas e a promessa do empreendedorismo como a alavanca para o crescimento do PIB: milhões de maquinhas de débito e crédito que iriam aquecer a economia e bombar o PIB. Mas o futuro nunca chega.
O “sonho erótico” totalitário
Em postagem anterior este humilde blogueiro observava que a narrativa da atual crise (tudo começou na China), seu contexto (no auge de uma guerra comercial e geopolítica entre EUA e China) e suas “coincidências” (fechamento do laboratório de armas biológicas nos EUA em 2019, primeiros mortes por “fibrose pulmonar” naquele país no ano passado e os Jogos Mundiais Militares realizados em Wuhan poucos meses antes da província se tornar epicentro) levavam a dúvida plausível se a pandemia possa, na verdade, servir de álibi para uma ampla engenharia social, uma gigantesca psy op para a criação de um cenário geopolítico de “domínio total de espectro” – clique aqui.
Sejamos no mínimo politicamente realistas: bloqueios totais, toques de recolher, isolamento social compulsório é o “sonho erótico” (nas palavras do filósofo esloveno Slajov Zizek) de qualquer governo totalitário – e temos que convir que governos com essa agenda política estão em ascensão no planeta nesse momento.
Zizek observa que “é a forma extrema de uma postura generalizada da esquerda de ler o “pânico exagerado” causado pela propagação do vírus como uma mistura de exercícios de poder de controle social e elementos de racismo total (“culpar a natureza ou a China”).
Para Zizek, essa suspeita de controle social por trás do pânico da pandemia abriria uma questão: “por que o poder estatal estaria interessado em promover esse pânico, que é acompanhado por desconfiança no poder estatal (“eles são impotentes, não estão fazendo o suficiente…”) e que perturbam a reprodução normal do capital? É realmente do interesse do capital e do poder estatal desencadear uma crise econômica global para revigorar seu reinado?” – leia ZIZEK, Slajov, “Zizek: Monitorar e Punir? Sim, por favor!” – clique aqui.
A questão é que, pelo contrário, torna-se cada vez mais válida a hipótese de que, entre todas as epidemias e pandemias, mortes e guerras que matam aos milhares cada ano, 2020 foi escolhido para desencadear a urgência de uma nova mutação de uma grande família viral que causa infecções respiratórias.
Por que? Porque estava na hora. Analistas econômicos Michel Chossudovsky (professor de Economia da Universidade de Toronto) e Jack Rasmus ( Ph.D em economia e professor na St Mary’s College, Califórnia) revelam mais um sincronismo na atual pandemia: ela chega num momento em que as bolhas financeiras iriam explodir, decorrentes de um modus operandi que vem se acumulando desde 2008:
O governo dos EUA desde 2008 também aumentou sua dívida federal em trilhões, pois continuou a contrair empréstimos de investidores em todo o mundo para "financiar" e reduzir os impostos dos investidores comerciais e continuar a escalada dos gastos de guerra desde 2008. A dívida familiar dos EUA também aumentou ainda mais depois 2008, como a falta de crescimento real dos salários e da renda ao longo da década pós-2008 resultou em US $ 1,5 trilhão em dívidas de estudantes, US $ 1 trilhão em dívidas de automóveis e de cartões de crédito e US $ 7 a US $ 8 trilhões a mais em dívidas hipotecárias. Globalmente, de acordo com o BIS, a dívida comercial não financeira também tem sido o principal elemento responsável pela aceleração dos níveis globais de dívida - especialmente empréstimos em dólares de bancos e investidores americanos (isto é, dívida dolarizada) pelas economias emergentes do mercado, bem como a dívida comercial em países emergentes. A China emitiu para manter empresas estatais e financiar a construção de edifícios locais.RASMUS, Jack, “A Tale of 3 Crisis”: Comparing 1929 with 2008 and 2020” – clique aqui.
A pandemia é o álibi perfeito dessa nova bioeconomia: fabricar um estouro da bolha e posterior recessão controlada, expandindo o circuit braker para a economia real – nada assim como foi o descontrolado crash de 2008. Enquanto a economia real congela, no cassino financeiro a riqueza é ainda mais concentrada quando os tubarões engolem as sardinhas – no Brasil, as pessoas físicas atraídas pela bolha criada por empresas como XP Investimentos.
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