SindSaúde defende o SUS, seus profissionais e revela as péssimas condições da Saúde em SP

Quase 60% dos trabalhadores da saúde estadual em São Paulo têm mais de 50 anos e entre eles, há cardíacos, transplantados, trabalhadores que estão fazendo tratamento oncológico, pessoas que fazem hemodiálise. Todos estão na linha de frente. São doentes cuidando de doentes, devido à falta de concursos públicos.

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Em contundente manifesto, a presidenta do SindSaúde-SP, Cleonice Ribeiro, defende o SUS e revela as condições das estruturas e da saúde dos trabalhadores da área no estado de São Paulo para lidar com a pandemia do Coronavírus.

Intitulado Estamos na luta! Pelo SUS e pela vida! Ribeiro destaca que governos neoliberais e sua fúria privatista em defesa do Estado Mínimo colocam em risco a saúde pública, transformando direito em mercadoria, além de estigmatizarem os servidores públicos, como o fez o ministro da economia, Paulo Guedes, que denominou os funcionários públicos de "parasitas".

Ribeiro denuncia ainda a carência de servidores no setor devido à ausência de concursos públicos, explica sobre o envelhecimento e adoecimento dos profissionais de saúde, boa parte deles se encontra na população de risco: "Serão doentes cuidando de doentes".

Em relação à realidade nas unidades de saúde ela conta que é a pior possível: "a estrutura física é precária, faltam equipamentos de segurança, a jornada de trabalho é exaustiva já que o salário é baixo e a maioria dos servidores realiza plantões extras para aumentar a renda. Além, disso os trabalhadores não receberam treinamento do protocolo encaminhado pelo governo."

Leia o texto na íntegra:

Estamos na luta! Pelo SUS e pela vida!
Autor: Cleonice Ribeiro*
19/03/2020

A Pandemia do Coronavírus chega ao Brasil acompanhada por diversas crises, o que torna a situação ainda mais grave no país. Existia até semana passada um consenso dentro dos governos federal e estadual sobre a necessidade de diminuir o Estado e privatizar os serviços públicos, política da qual nós, do SindSaúde-SP, somos contra.

Na verdade, isso que alguns economistas estão chamando de ultraliberalismo, não passa de uma radicalização da visão de que o mercado vai resolver todos os problemas sociais, que os servidores públicos são todos “vagabundos” e, portanto, o Estado é ineficiente.

Chamam de gasto os investimentos em saúde e educação, somente em 2019 o governo federal retirou por meio da Emenda Constitucional 95, de 2016, R$ 20 bilhões da saúde. Em 2016, o orçamento da saúde representava 4,36% do gasto público total, em 2020, esse percentual caiu para 2,97%.

Paulo Guedes, em Brasília, e João Doria Jr., em São Paulo, aceleraram algo que tem sido feito aqui no nosso estado há muito tempo. Entre 2006 e 2019, o número de funcionários públicos da Secretária de Saúde estadual caiu mais de 10%, saindo de 69 mil para 43 mil trabalhadoras e trabalhadores. Já em 2017, o próprio governo admitia que fosse a necessária de contratação de mais de 66 mil novos funcionários. No entanto, novos concursos não são realizados.

Agora nosso estado é o epicentro de uma verdadeira guerra, e quem está na linha de frente do combate é justamente os trabalhadores e trabalhadoras do serviço público que atuam no Sistema único de Saúde (SUS). Mas mesmo assim, o descaso por parte do governo permanece. Enquanto o governo faz discursos bonitos afirmando competência e preparo para lidar com a pandemia, nenhuma medida mais efetiva de proteção aos trabalhadores da saúde que estão na ponta do atendimento foi executada.

A realidade nas unidades de saúde é a pior possível, a estrutura física é precária, faltam equipamentos de segurança, a jornada de trabalho é exaustiva já que o salário é baixo e a maioria dos servidores realiza plantões extras para aumentar a renda. Além, disso os trabalhadores não receberam treinamento do protocolo encaminhado pelo governo.

Ao contrário de valorizar quem vai salvar o Brasil, nesse último período, o governador João Doria aprovou uma Reforma da Previdência que pode tirar de 1% a 5% dos salários, que já eram baixos, impõe idade mínima, aumenta o tempo de contribuição e dificulta o acesso à aposentadoria especial.

A última ação do governo foi promover uma reavaliação do adicional de insalubridade trabalhadores da saúde, que pode provocar uma redução salarial de mais de até R$ 700. Esse benefício era uma compensação, justamente, pelos riscos que os profissionais do SUS enfrentam no dia a dia.

Agora, não somente, todos os servidores que estão nos grupos de risco terão que trabalhar e se expor atendendo pacientes vítimas do Coronavírus, pois Doria liberou todos os servidores com mais de 60 anos, menos os da Saúde.

Quase 60% dos trabalhadores da saúde estadual têm mais de 50 anos e entre eles, temos cardíacos, transplantados, trabalhadores que estão fazendo tratamento oncológico, pessoas que fazem hemodiálise e todos eles estão na linha de frente. São doentes cuidando de doentes, devido à falta de concursos públicos.

Nós não nos negamos a trabalhar, aliás, se o SUS ainda existe em São Paulo é por nossa conta, trabalhadoras e trabalhadores públicos, que ganhamos pouco, trabalhamos muito e ainda somos mal vistos. Mas mesmo assim não nos negamos a cuidar da população paulista.

Na última quarta-feira, 18 de março, dia de luta nacional em defesa do serviço público, o SindSaúde-SP, e toda a classe trabalhadora, reafirmou sua vocação por cuidar de quem cuida. Na ocasião, convocamos toda a população a defender o SUS e os serviços públicos de qualidade.

Afirmamos que acima dos números estão as pessoas, e o Estado deveria promover o bem estar de todos(as), e não somente dos banqueiros e ricos. E desejamos que esta crise seja uma oportunidade para que de uma vez por todas cessem os ataques à educação, à saúde e aos programas de distribuição de renda.

Estamos na luta! Pelo SUS e pela vida!

Cleonice Ribeiro
Presidenta do SindSaúde-SP