Na manhã de ontem o mundo recebeu a grande notícia: o ministro da Saúde do Reino Unido, Matt Hancock, anunciou a liberação da primeira vacina contra a mortífera Covid-19, desenvolvida numa parceria entre a farmacêutica Pfizer e o laboratório BioNtech.
A esperança da volta à normalidade correu os quatro cantos do planeta. Orgulhoso, o ministro da Saúde da Alemanha, país de origem da BioNtech e da inédita tecnologia imunizante, Jens Spahn, mostrou sua modéstia e humildade ao dizer que "o importante não é ser o primeiro, mas ter uma vacina que seja segura e eficaz". É essa humanidade que nos emociona. A da ciência que vence a morte. Mulheres e homens que viraram noites sem dormir, por meses, para cicatrizar uma chaga que já fez milhões de pessoas sofrerem.
Enquanto a ciência deixa suas marcas no curso da História, uma figura esdrúxula segue com seu jogo mesquinho e asqueroso no Brasil. A cada nova notícia sobre uma vacina, Jair Bolsonaro corre para dizer algo absurdo. Ora fala que não vão colocar nas suas costas os efeitos colaterais de nenhuma vacina, ora faz coro e alimenta a matilha antivacina que se multiplica no oceano de estupidez que alaga o país.
Jair... Ninguém quer colocar nada nas suas costas. O mal que você está fazendo ao Brasil estará para sempre carimbado na sua testa e nos livros de História. Tentar se desvencilhar de todas as canalhices que são unicamente de sua responsabilidade não será possível. O futuro te aguarda. Enquanto houver uma só viva alma na crosta terrestre, ecoarão os gritos da sua culpa, do morticínio que você patrocinou.
Chegamos hoje à marca de 175 mil vidas perdidas pela Covid-19 e muito disso é responsabilidade da insana política oficial de inação absoluta implantada por Bolsonaro. Sua verve assassina (que ele mesmo fez questão de frisar em várias ocasiões, ao dizer que seu ofício é matar e que com uns 30 mil mortos o Brasil tomava jeito) vem falando mais alto. Quando se é mau-caráter, todas as ações tomadas em vida refletem esse traço. Não poderia ser diferente.
Ao passo que o mundo desaba e caos da doença volta a se alastrar, a preocupação do homem que ocupa o Palácio do Planalto é contratar consultoria para produzir lista de jornalistas detratores. Pela bagatela de R$ 2,7 milhões, Bolsonaro encomendou um serviço tosco, feito pelo Google, para perseguir seus opositores. Num levantamento feito pela Revista Fórum, publicado no Blog do Rovai, tal dossiê não custaria mais do que R$ 36 mil. Ou seja, com dinheiro público, a caterva medieval de gabinete teria pago, segundo os dados vazados, 73 vezes mais.
Não para por aí. Da verba liberada pelo Congresso para contratação de cinco mil profissionais de Saúde (R$ 338 milhões), o governo encabeçado pelo capitão utilizou apenas 4,6% (menos de R$ 16 milhões).
Prioridades, meus caros. Prioridades!
Salvar o povo da morte pelo patógeno não importa. Essencial mesmo é pagar serviços superfaturados para mapear jornalistas que falam a verdade sobre os horrores cometidos por um governo insano.
Fora dos círculos enfeitiçados do bolsonarismo cruel e irracional, crescem os esforços para tornar operacional um complexo sistema logístico que permitirá a vacinação de 215 milhões de brasileiros. As vacinas desenvolvidas pelo Instituto Butantan, em parceria com a Sinovac, da China, e da Fiocruz, em colaboração com a Universidade de Oxford, assim como o imunizante russo Sputnik V, precisarão dar cobertura a uma população gigante num território continental, que ainda por cima é cheia de contrastes e diferenças geográficas e sociais.
O Brasil sério e humano será capaz de trazer todas essas soluções, tenho certeza disso. Precisamos manter o idealismo ingênuo dos românticos e permanecer acreditando que o bem vencerá o mal. Vamos superar o vírus e condenar Jair Bolsonaro às trevas da raça humana.
Mas não devemos perder o lamurioso fio de confiança em dias melhores. Ontem foi uma prova disso: emoção mundo afora.
A primeira vacina vem do Reino Unido, enquanto por aqui segue firme o calvário imposto pelas mãos de um boçal irresponsável. Como disse o Verissimo, no Brasil o fundo do poço é apenas uma etapa. Permanecemos ilhados nessa ignorância.
Só que uma hora a coisa vai passar. Já recebemos a primeira boa notícia. Acreditemos que outras melhores ainda virão.
Insisto, outra vez... Sigamos firmes!