Alguns afirmam que o bolsonarismo foi o principal perdedor dessas eleições, mas tenho minhas dúvidas. Creio, como já escrevi, que é, sim, o início do fim desse sistema perverso, mas ele ainda está longe de acabar. Bolsonaro saiu fraco, o bolsonarismo não, porque este é híbrido, camaleônico, adaptável. Consegue se disfarçar até de centro ou centro-esquerda.
Sim, bolsonarismo é, por exemplo, a tática absurda de “mentiras em nome da fé”, usada contra a candidata Marília Arraes, ou as inumeráveis fake news contra Manuela D’Ávila, mesmo vindo de partidos que não têm nenhuma ligação com Bolsonaro. O bolsonarismo é maior que Bolsonaro.
E, no meio de tudo isso, temos a esquerda, que usando de matemáticas mirabolantes, quer se convencer que não perdeu. Mas perdeu! Pode não ter perdido tanto quando em 2016 e 2018, mas perdeu. É verdade que sinaliza um “estancamento da sangria”, mas é preciso a admissão da derrota. Só assim poderemos avançar.
Mas como avançar, fragmentada do jeito que está?
É aí que eu me lembro das palavras de Jesus num dos seus embates com os religiosos de seu tempo: “Todo reino dividido contra si mesmo será arruinado e toda cidade ou casa dividida contra si mesma não subsistirá.” (Mateus 12:25)
Já passou da hora da esquerda se mobilizar, ainda que isso não garanta a vitória em 2022. Mas é para se unir de verdade. O tempo urge! E é tempo de definição. Quem quer ser esquerda que seja, e pare de atacar a própria esquerda. É um tiro no pé. Não dá mais pra pensar em unidade de esquerdas com quem não quer se identificar com a esquerda. E, pior, quer demonizar parte dela pensando que, desta forma, herdará a parte insatisfeita. As eleições mostraram que não. A esquerda antropofágica diminuiu. Cresce o Centrão.
Não adianta. Um reino dividido contra si mesmo será arruinado. Não tem como ser diferente. Ou é pra agora, ou não será mais, porque corremos sérios riscos de perdermos partidos importantes em 2022 (ou serem obrigados a fundirem-se com outros partidos) por conta da cláusula de barreira, que favorece aos mesmos de sempre.
E é hora de encararmos o bolsonarismo de frente. Juntos, sem arrego ou fogo amigo. Não dá mais. Quem quiser que saia e cumpra uma outra palavra bíblica, agora do apóstolo João: “Eles saíram do nosso meio, mas na realidade não eram dos nossos, pois, se fossem dos nossos, teriam permanecido conosco. (1 João 2:19)
E Paris está logo ali...